Mulheres atrás do seu quinhão no Eldorado do Visconde |
Recebi por email uma matéria muito bem escrita sobre a invasão das "mulheres de vida fácil" às terras do Visconde de Itaboraí. Intrépido leitor, essa peça jornalístico-literária é do repórter Ricardo França publicada no jornal O São Gonçalo em 12 de agosto.
Assim, Itaboraí confirma e consolida os outros indicadores econômicos. Sim, prostituição é um indicador econômico de comprovação empírica! O texto é meio longo. Mas quem se importa? Viva o progresso!
Comperj já está movimentando a economia: As meninas chegaram!
Quando os relógios marcam 17h, encerrando o expediente no Comperj, elas já estão de prontidão na primeira curva da Rua S, quase esquina com a RJ-116. Tatuagens à mostra, shortinhos jeans, mini-saias, óculos escuros modelo anos 70 e panfletos amarelos nas mãos: a ‘blitz’ do sexo aguarda a passagem das dezenas de vans, ônibus e automóveis que saem do canteiro de obras. Às 17h10, quando os primeiros veículos começam a passar, uma delas toma à frente. Braço direito estendido, mão espalmada indicando ‘pare!’, avança na pista abrindo caminho para o ‘pelotão’ e interrompe o trânsito com a autoridade de uma policial militar. De repente, vira de costas para a estrada, inclina levemente as costas, arrebita as nádegas, ‘mira’ o bumbum para o próximo ônibus e arria, de sopetão, a calça de moleton. É o início da ‘emboscada’.
O alvo, no final de tarde daquela sexta-feira, 8 de julho, era mais uma vez os cerca de quatro mil operários contratados de firmas terceirizadas da Petrobras. ‘Ferido’ pelo ataque surpresa, o motorista do ônibus se ‘rende’ e mete o pé no freio. A cena do ‘bumbum’ revelado cai como uma granada no interior do coletivo e explode em euforia. O ônibus ganha vida, braços e cabeças nascem pelas janelas como um bicho surreal feito de ferro, gente e pneus. Dele, bocas gritam ao mesmo tempo expressões impublicáveis enquanto mãos procuram os panfletos amarelos empunhados pelas garotas de uma ‘boate’ de Papucaia, distrito de Cachoeiras de Macacu, a 13 km da Rua S. A panfletagem do endereço da casa de saliência vira, então, um aperitivo de show pornô a 4 km do canteiro de obras do maior polo da indústria petrolífera do País.
As meninas de Papucaia não são as únicas a prospectar novos clientes. Garotas de programa de São Gonçalo já têm uma rede de contatos com encarregados de obras e operários dos alojamentos que surgem da noite para o dia na região. É o caso da estudante de enfermagem e massoterapeuta Andressa. Por telefone, diz ter corpinho tipo ‘mignon’, 1,62 de altura, 62 quilos, manequim 38, olhos castanhos e cabelos negros chanel. Há um ano e meio aproveita os dotes físicos para fazer programas e ganhar dinheiro extra a fim de pagar a faculdade. “A minha agenda tem o nome de quatro encarregados de firmas terceirizadas do Comperj. Um indica o outro. Três são mineiros e um, paulista”, revela Andressa, que aumentou a sua clientela anunciando seus serviços em classificados de jornais.
A ‘demanda’ extra do Comperj ‘aqueceu’ seus rendimentos em 40%, entre 15 a 20 encontros a mais por mês. Cada um, de uma hora de duração, sai por R$ 100. Se for 24h, custa R$ 600. As meninas de Papucaia ganham R$ 120 pelo mesmo período, mas têm que dar um percentual para o ‘cafetão’. Para entrar na boate, os operários pagam mais R$ 30, o que encarece a diversão. Aí, as garotas de São Gonçalo saem na frente. “Eles ligam sempre entre os dias 10 e 15 de cada mês, nós vamos de mototáxi até o Comperj. Os programas são feitos em hotéis e nos alojamentos, mas nem sempre é sexo, às vezes é só conversa. Eles são muito bacanas”, elogia Andressa, que também tem curso de vigilante.
A chegada do Comperj e a expectativa de contratação de mais 10 mil operários até 2014, quando o complexo estará funcionando, abriu as portas de um mercado de trabalho - até então inédito em Itaboraí - para profissionais do sexo e oportunidades de negócios clandestinos para ‘rufiões’ de cidades vizinhas. O efeito colateral da prostituição, que chega a reboque de empreendimentos dessa magnitude, preocupa moradores de Sambaetiba e de cidades vizinhas.
O tema prostituição já entrou na pauta de discussão da Agenda 21 de Itaboraí e do Movimento de Mulheres da cidade. Segundo a coordenadora geral do fórum, professora Ivone Chaves, o problema é tratado como uma questão de saúde e de segurança pública.
“A prostituição, que antes não existia dessa forma por aqui, está visível. Manilha, hoje um polo comercial, é um dos pontos usados por mulheres que vêm de fora. As políticas públicas não caminham com a mesma velocidade dos efeitos colaterais causados pelo Comperj. Há a preocupação da disseminação das DSTs e o crescimento do tráfico de drogas. A pobreza aliada ao aumento da oferta de drogas passam a incluir o sexo nesse mercado paralelo”, analisa Ivone. “Nossa preocupação é proteger as crianças e os jovens daqui, para que não sejam assediados e aliciados por essa rede. Uma menina com menos de 10 anos de Itambi, onde dou aula, se prostituiu para comprar fraldas para a irmã mais nova e mantimentos para a família, porque não tinham o que comer. Não vejo planejamento por parte da administração pública e, se continuar assim, a situação vai se agravar e a cidade vai ficar perdida, vai se tornar um caos”, alerta a coordenadora.
Segundo o secretário de Saúde de Itaboraí, César Alonso, o número de registros de atendimento a pacientes portadores de doenças sexualmente transmissíveis dobrou no município. “O de maior incidência é a gonorréia”, revelou.
Itaboraí: nem tão longe, nem tão perto!
Preciso ir até Itaboraí e tão logo o dia começa faço os preparativos para fazer esta viagem. Que de qualquer maneira, despretensiosa, necessita de certo planejamento devido às vias que precisarei cruzar, os buracos que terei que desviar e ainda penso que se voltar tarde da noite por algum contratempo, precisarei também de iluminação, o que será muito mais difícil se não tiver faróis potentes o suficiente que me iluminem o caminho.
Me aproximo do município de Itaboraí e reparo que algumas moças jovens distribuem ao longo da via de acesso panfletos, muito provavelmente de empreendimentos imobiliários, tais quais aqueles que surgirão onde resido em Maricá. O Comperj para Itaboraí soa para aquela população como um suspiro de renovação, já que se tornará um importante polo petroquímico de interesse nacional, e talvez único no gênero. Afinal, faz tempo que o Estado do Rio de Janeiro e seus municípios carecem de investimentos, já que não dispomos de outra atividade que não seja um turismo incipiente e agriculturas monoteístas de pouca notoriedade.
Olhando mais atentamente o panfleto recebido percebo que se trata de propaganda de hotéis e pousadas, com descontos para acompanhantes em horários diurnos, o que me causou certa estranheza. Mas olhando mais atentamente e não sendo o público alvo da propaganda, vejo pelo pára-brisa que algumas das meninas, outras nem tão jovens suspendem ligeiramente a saia, já curta, na janela do motorista, ou levantam a blusa mostrando na verdade o produto que estão vendendo. Algumas permanecem no ponto, enquanto outras entram nos carros, com um sorriso que não consegui definir se era de contentamento ou de gratidão.
Esta história acontece todos os dias por todas as vias de acesso a Itaboraí. O índice de prostituição tem crescido aceleradamente, pela falta de oportunidades neste conhecido município periférico e de baixa renda. Não existe menosprezo nesta narrativa, apenas a evidência de que na falta de preparo, os municípios laterais e colaterais sofrerão o mesmo impacto. Isso se deve ao fato, da oferta ser menor do que a procura, o que barateia o valor do serviço. Que a prostituição é um fato, todos sabemos, ainda que não aceitemos isso prontamente. Porém a falta de planejamento ocupacional, inclusive por empreendimentos que supostamente trarão progresso, não é uma certeza de qualidade de vida.
Puteiro é sinal de desenvolvimento, desde os tempos do Império Romano.
ResponderExcluirPutas omnia vincit! ;)