quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O INTERESSE PÚBLICO É UMA FARSA

A democracia, nobilíssimo leitor, carrega consigo o veneno de sua destruição. Achincalhar e fragilizar esse sistema ao mesmo tempo delicado e sofisticado que rege o convívio e as relações humanas, vitória maior da civilização ocidental, é um pulo.

E é o que rapidamente vemos acontecer no mundo e no Brasil.

Bolinha de papel não machuca, não...
As premissas de igualdade (isonomia), liberdade e justiça para todos têm conotações diferentes para diferentes sociedades e culturas. E o ponto nevrálgico de suas fragilidades ou fortaleza é a forma como as riquezas produzidas por um país são distribuídas entre o seu povo.

Então, a democracia carece, principalmente, de equilíbrio. E só há equilíbrio possível dentro desse sistema se for para e através do interesse público. Mas que diabos é isso que chamamos de interesse público?

O interesse público é uma abstração - por mais que tenha elementos positivos de idealização majoritários - e fonte permanente de frustração individual. Não é raro o sujeito virar a cara quando uma imposição coletiva se faz maior aos seus interesses individuais. A democracia é a arte de fazer valer a vontade da maioria respeitando os direitos do indivíduo. Ó! eu sou um gênio.

Trabalhar para o interesse público é um saco. E diria ser quase impossível colocar em prática essa que é a maior das maiores virtudes da democracia. A política, que é a seiva que corre nas veias da democracia, se dá basicamente por agrupamentos ou interesses de classes, indivíduos e, hoje, principalmente, corporações.

Faça ver, leitor, na democracia jogamos permanentemente pelos nossos interesses neste grande campo do interesse coletivo (veja bem, coletivo não é o uno, o monólito) que é a res pública. É desgastante e impraticável manter na prática o discurso do interesse público porque simplesmente isso é inapalpável, uma abstração no mundo real da política cercado de poderosos interesses do capital, por exemplo.

Daí a política e o jogo de interesses serem exercidos de forma seletiva e compartimentada através do modelo representativo que tem no voto a maior expressão de sua vontade e legitimidade. Gostando ou não, tanto o Flávio Bolsonaro como o Marcelo Freixo têm legitimidade para defender os interesses daqueles que representam. Cada um defende a parcela do público que representam.

Em O Leviatã, Thomas Hobbes denomina uma categoria social que é conhecida por nós hoje como sociedade civil (há controvérsias...). "Civil", aí, não é o oposto ou uma contraposição a "militar". Tem muita gente boa que mistura os canais. A sociedade civil, neste caso, é regida por leis soberanas que dão forma às relações sociais e principalmente ao Estado. É o tal do contrato celebrado entre os cidadãos que tem no Estado o seu principal fiador e mantenedor.

Antes de celebrado o tal contrato as demandas sociais eram resolvidas na porrada. Após de "assinado" o contrato, é o Estado o árbitro de todos os conflitos sociais a partir do princípio da isonomia jurídica que é a chave de funcionamento do sistema democrático. Tudo passa pelo Estado. E quem controla o Estado?

Era o momento que eu estava esperando! Vamos deixar de ser prolixos e de conceituações e vamos logo ao que interessa: quem comanda o Estado hoje é o Partido dos Trabalhadores que alçou uma classe social para dentro do jogo de decisões políticas do Estado brasileiro. Isso incomoda uma parcela da sociedade que foi obrigada a ter na mesa de decisões os "caboquim."

Os "porta-vozes"  de Vassouras (aqueles que bateram o pé contra a abolição até o último segundo do crepúsculo de Pedro II) fazem um jogo midiático perigoso contra o Governo e atentam frontalmente as instituições democráticas. Utilizam-se dos meios de comunicação para fabricarem um sentimento de repulsa da população ao governo Dilma Rousseff absolutamente inexistente.

Tenhamos cuidado. Cuidado com essas marchas "contra a corrupção". Cuidado com a Veja (clique neste link para ter uma noção do que é o jornalismo imparcial da revista) e cuidado com a bolinha de papel.

Nós, da tão falada Classe C, estamos, pela primeira vez na história deste país, saboreando o gostinho de sermos os protagonistas de nosso próprio destino. Conquistamos através de muita luta o direito de ter uma parcela maior da riqueza deste país. Ainda é pouco. Mas estamos no caminho certo embora tenhamos que estar sempre vigilantes.

A história está em nossas mãos. Vamos dar um cheque em branco ao PT? Claro que não. Mas devemos ter consciência que nós somos a base política e eleitoral de representação da maior parcela do público que há séculos ficou excluída do processo decisório deste país.

Corrupção de cu é rola, como diz um amigo meu. Não quero dizer que tolero esse tipo de coisa. Mas numa perspectiva mais abrangente isso passa a ser residual frente a um projeto de país no qual eu e você, leitor, somos pela primeira vez protagonistas. Roubou, polícia e justiça. Não se engane. O interesse público muitas das vezes é um engodo e não raramente usado como discurso para a prática de gigantescas sacanagens da forma mais abjeta contra o grosso do povo brasileiro. 

      

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