sexta-feira, 23 de setembro de 2011

NÃO PEGO NINGUÉM DO ROCHA


Extasiado leitor. Depois de um dia de intensos festejos e júbilo por morarmos nesta Freguesia, apresento a vocês uma modesta reflexão sobre São Gonçalo.

Esta peça reflexiva que deve ter deixado em polvorosa a administração citadina foi publicada no jornal O Guarda de 22 de setembro.

Boa Leitura.

Não namoro ninguém do Rocha

O trepidante ônibus da Linha 10 Circular. 


Os problemas de São Gonçalo carregam em seu código genético as próprias soluções. Pode soar piegas ou até mesmo demagógico tal afirmação, meu caro leitor, mas acredito que no decorrer deste texto sairás convencido de que sou apenas mais um dentre tantos que cerram fileiras para o bem desta que é a nossa terra.

Pra começar, digo meio de supetão, se me permite, que a freguesia de São Gonçalo do Amarante carece de integração espacial.  Não somos uma cidade integrada no sentido clássico que tem no ponto zero, o centro, a sua principal referência cultural e econômica. Ao Sul corremos a Niterói e ao Norte batemos perna rumo a Alcântara.

Como sou abusado, pego agora uma coisa cara ao catolicismo para fazer-me entender: historicamente essa cidade do santo boêmio sempre foi para nós o purgatório, o transitório. “Oxalá ficar rico e dar no pé!”  Eis o projeto de vida do gonçalense. Negligência daqui, desleixo de lá, nos transformamos numa quase impossibilidade. Quase...

São Gonçalo é tão viável que sobrevive até à indiferença dos seus. Precisamos integrá-la e abandonar a concepção viária-espacial que sempre privilegiou Niterói. Não precisamos de Niterói. Eles que sempre precisaram da gente e não têm a menor gratidão por isso.

Pôxa, eu que sou do Porto Velho, descobri que tem uma porção de gatinhas ali no Rocha, Colubandê, Coelho... A possibilidade de eu casar com uma delas é ínfima. Também sei que tem uma penca de lojas de atacado que me dá uma economia dos diabos em artigos de escritório e papelaria. Hospital Geral? Esqueça! Melhor ir para o Souza Aguiar no Rio.

O capital não sobrevive à desintegração. É muito mais fácil, rápido e confortável eu gastar o meu dindim no Bay Market ou Plaza que no Shopping São Gonçalo que está a 3 Km de minha casa pela BR 101.

Um grande amigo, professor e geógrafo Mauricio Mendes vivia a me alertar: “Seguimos os nossos acidentes geográficos. Somos passagem, não hospedagem”. Claro, concordo. Mas se não fosse uma decisão política e econômica de integração Copacabana até hoje seria uma praia selvagem.

Por conta dos tais acidentes, que na verdade são os “maciços” longitudinais que cortam nossas terras nos sentidos norte-sul formando extensos corredores, a cidade é fragmentada. E isso gerou um bocado de desdobramentos nas áreas social, política, cultural e econômica.

Essa desintegração espacial e o pouco caso da administração pública, por exemplo, quase nos subtraem as regiões de Ipiíba e Monjolos (Alcântara) do nosso convívio nos anos de 1990. Mas sabiamente a população disse não à emancipação dos distritos que formariam um novo município. Depois de perder Itaipú no início do século XX para Niterói, não sei se o santo protetor dos músicos iria aguentar...

Esse capitalismo roda-presa em São Gonçalo mantém certas coisas inacreditáveis. Não entendo o domínio que beira o senhorio da empresa Galo Branco naquela região do Rocha e do Galo Branco. O empresário da construção civil olha aquela área (sub-habitada) e se pergunta: Eu vou vender apartamento num lugar onde não tem transporte com facilidade? O mais 171 dos corretores não consegue vender.

Respeito, é claro, a função honrosa do proprietário da empresa citada em ser um empreendedor numa área tão complicada que é o transporte público. Como empresário vencedor em seu ramo, ele deve entender e apoiar o que falo. Porém, deve concordar se houver planejamento, critério, visão de futuro do poder público para ousar usando-se, no nosso caso, da criatividade e principalmente responsabilidade e boa vontade.

A prefeita está de parabéns por tudo de bom que tem feito. A feiura de São Gonça que tanto trazia-me desesperança deu lugar a mais bela de todas as coisas: a beleza do movimento, do fazer para o que é feio se tornar belo.

Mas queremos e precisamos ir além. De um projeto de cidade que rime desenvolvimento com oportunidades para todos. São Gonçalo é uma das poucas cidades do Brasil que se fez do povo.  Não lembro o último “doutor” (Charles não conta) prefeito  desta cidade. É por isso que quando me perguntam como é Sâo Gonçalo eu respondo que é o que há de melhor do povo brasileiro.

3 comentários:

  1. Muito bom o texto - com exceção ao elogio à prefeita, claro.

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  2. Pensei logo em uma paródia de "Óculos", dos Paralamas...

    "As meninas do Colubandê não dão pra mim
    (moro em Ne-ves!)
    E volta e meia não consigo ir pro Arsenal
    (moro em Ne-ves!)
    Se faço Letras na Uerj está tudo bem
    Mas fora da rota do ABC
    eu não como ningue-ém...

    Por que você não olha pra mim?
    Será que é por que moro mal?
    Por que o Rocha é longe pra mim?
    Imagina então Largo da Ideia ou Arsena-al...

    Por que não tem buzum para mim?
    Metrô só existe na eleição...
    Por que em São Gonçalo é assim?
    A linha do ônibus é que pauta o coraçã-ão..."

    HAHAHAHHAHA!

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  3. Interessantíssima abordagem, que reflete algo que também eu penso e repenso.

    Uma das soluções que volta e meio me pego desenvolvendo é a de ligação metroviária entre Maricá e São Gonçalo, privilegiando, naturalmente, os bairros de Calaboca a Tribobó. A linha de metrô seria conectada ao centro de São Gonçalo por um túnel através da APA do Engenho Pequeno, até o bairro homônimo, e depois atravessando o terreno da Pedreira Carioca.

    Se pensarmos com mais ousadia, podemos até imaginar a integração da Região dos Lagos com a capital através de uma linha ferroviária. Seria a reativação (com devidas adaptações, naturalmente), da antiga E.F. Maricá, que ligava Neves a Cabo Frio.

    Além disso, um túnel, ou mesmo uma estrada sobre o morro entre o Paraíso e Santa Catarina também seria interessante.

    Bom, para a cabeça de um futuro engenheiro civil, São Gonçalo é um prato cheio.

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