Isso é cubismo puro! |
Eram aproximadamente 14 horas. Voltava da Câmara. Sempre passo na Câmara para filar um café e trocar idéias curtas com alguns amigos que prestam serviço ao Legislativo dessa freguesia de São Gonçalo.
Fui em direção ao lance de escada que dá para o estacionamento dos edis gonçalenses à frente de uma piscina que deveria harmonizar com um jardim inexistente do largo lateral da prefeitura. Queria fumar um cigarro à sombrinha de uma árvore dali.
Ah, leitor! Omiti uma informação importante: estava acompanhado do amigo Rheinaldo Baso que encontrara minutos antes por um desses acasos que se transvestem destino...
Antes de sentar-me, porém, o Portinari: Denilson, o seu nome. Sujeito agitado em meio ao calor de um inverno já derrotado pela primavera. Queixava-se de dor, cria. O gesso no braço também o incomodava decerto.
Os traços brutos daquele homem me lembraram imediatamente o Portinari. Precisava de sua história, portanto, para escrever esse post pra você. Essa minha cabeça tonta precisava de um endosso, este veio do Rheinaldo: "Sim Phill, é o Portinari! Temos um Portinari à nossa frente" - avalizou o amigo. (nota: algumas pessoas me conhecem pela carinhosa alcunha de Phill. Coisa de minha mãe. O estrangeirismo fica por conta do Tavinho do Blues Etílicos, mas isso é uma outra história....)
Puxei logo assunto a ver nele o Brasil. Denilson Pianchi de Moura é o seu nome de batismo. Soletra com desenvoltura o Pianchi. "Alguns falam 'xi' outros 'qui'", argumentou. Pensou oferecer identidade e atestar existência. Mas o desdobramento imediato da conversa nos levou a uma pequena tragédia do nosso amigo: foi atropelado na 18 do Forte. Levaram tudo que tinha. LEVARAM TUDO QUE TINHA: uma mochila, identidade e alguns trocados.
Denilson Pianchi de Moura é morador de rua. Disse que há três meses vive de calçada em calçada. Ia dizendo e bebericando a cachaça no copo de Guaravita. "Não tem remédio, só cachaça. Passa a dor", revela um tanto marotamente esperando de nós compadecimento. Como não houve a reação esperada, contentou-se queimar o cartucho pedinte com um cigarro.
Querendo ser útil e reverter tal desalento, ofereci a Denilson minha porção cidadã orientando-o e fazendo-o saber das alternativas que o Estado dá aos desvalidos. "Só tem maloqueiro! Abrigo só tem maloqueiro e é lá em Vista Alegre", retruca o escaldado e consciente desalojado. "Logo, logo tiro esse gesso e pego uma obra pra pagar aluguel. O doutor disse que semana que vem já tiro esse gesso", continuou, em meio a outra golada na branquinha.
Faltava a foto. Não sei quem era mais cínico, se eu ou o Denilson.
Denilson: pedreiro, morador de rua. A nossa galeria de personagens urbanas |
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