terça-feira, 16 de outubro de 2012

SÃO GONÇALO É O PARAÍSO DA OPOSIÇÃO

Meu nobre leitor, São Gonçalo é uma cidade enorme, ficou anos abandonada e por isso mesmo acumulou índices de desenvolvimento humano perversos. Aqui nesta freguesia, portanto, é mamão com açúcar o discurso da oposição colar num ouvido incauto.

Porém, permita-me fazer uma breve narrativa euclidiana acerca de tal geografia citadina à leste da província de São Sebastião do Rio de Janeiro, banhada pelo esgoto industrial que chamam Guanabara e fronteiriça à Praia Grande e às terras do Barão de Maricá e do Visconde.

A freguesia de São Gonçalo do Amarante possui pouco mais de 256 km² de terras quase que totalmente ocupadas por 1 milhão e tantas almas. É a 2º mais populosa do estado e a 16ª do Brasil. Mas esses dados nos dão uma falsa noção de grandeza levando em consideração o orçamento nanico de R$ 670 milhões que obriga o administrador ser bom no rebolado fiscal e flertar permanentemente com outras instâncias do poder a fim de fechar as contas e satisfazer ao cada dia mais exigente (e impaciente) contribuinte gonçalense. Para se ter apenas ideia de uma cidade parecida (mesmo que de longe) com São Gonçalo, Guarulhos tem uma receita de mais de 2 bilhões de reais por ano.

Fazendo uma matemática rudimentar, se distribuirmos o nosso quinhão pelas almas desta freguesia, teremos R$ 67,00 por cabeça. E se levarmos em consideração que 53% da "fortuna" arrecadada vai para o funcionalismo, restam pouco mais de 30 reais per capita gastos por ano com nossas crianças e velhos, tanto em educação e em saúde; pavimentação, manutenção dos semáforos etc, etc. e põe etc nisso. Daí, meu perplexo leitor, a nossa inevitável dependência aos cofres da União e do estado, tanto em repasses por força de lei como por força do entendimento e boa vontade políticos. Somos a cidade no Brasil que mais depende das voltas que a política dá para fazermos alguma coisa que não seja choramingar com pires na mão.

Por obra e graça dos gênios da raça papa-goiaba dos anos 50 e 60 do passado século XX, a freguesia foi incapaz de planejar o seu futuro a longo prazo, além de permitir o seu inchaço pelas franjas do município, de modo omisso e criminoso, seja pelos inacreditáveis loteamentos ou pela posse irregular de terras públicas em áreas de mangue às margens, da também mal planejada, BR 101. Some-se a isso o esvaziamento industrial sob o olhar impassível da rapaziada que ora residia à Feliciano Sodré, Nº 100, representação maior de nossa municipalidade.

Bem-quisto leitor. Sabes que te amo e em verdade vos digo: São Gonçalo é um problema. Ela não tem problemas. Ela mesma é o problema. Lamento dizer que aqui neste pedacinho de céu e terra de pipa e bola de gude da minha infância, foi-nos reservado indignação, sofrimento e resignação. Sim, porque durante muitos anos ficamos reféns de uma trama diabólica que nos empurrou para a periferia da periferia; uma trama que nos legou como depositório de gente, um lugar onde apenas permitido construir pracinhas sem coreto, que ao menos nos servisse de púlpito a levantar nossa voz contra aquele estado de coisas tão afeito à viralatice papa-goiaba que deixou imerso nas sombras o futuro desta cidade. Oxalá conosco estivesse o maior de todos os não-gonçalenses, Luiz Palmier, mas este aí morreu tristonho, creio, ao ver tanta patacoada.

Para uma parcela considerável de São Gonçalo, nada que se faça se corrige. É o melhor lugar para se fazer estágio oposicionista. Todos aqui são oposição. Ser de oposição nestas terras é quase um nirvana, uma catarse, que atinge até o mais fervoroso defensor do governo. Qualquer governo. Há uma expressão (e se não há, eu assumo a autoria) que fazer alguma coisa de bom por essas bandas é como esvaziar açude cheio com cumbuca rasa. Ninguém nunca vê o resultado. Os problemas são tantos e vários, que o governo tem que se policiar pra não esculhambar e fazer oposição a si mesmo também.

Então, leitor, peço serenidade e juízo no dia 28 de outubro do ano de Nosso Senhor de 2012.

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