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domingo, 20 de abril de 2014

ACABOU O QUE NEM COMEÇOU?

 


Um acontecimento histórico, entre 280 e 279 aC, sobrevive até os dias de hoje e persegue principalmente os ambiciosos desmesurados cegos pelo seu próprio desejo. Refiro-me à Batalha de Heracleia, na Guerra Pírrica, que recebeu este nome em função do rei de Épiro, Pirro.

Sobre esta batalha, Plutarco, historiador romano de origem grega, registra um relato de outro historiador, também grego, Dionísio de Halicarnasso:
"Os exércitos se separaram; e, diz-se, Pirro teria respondido a um indivíduo que lhe demonstrou alegria pela vitória que "uma outra vitória como esta o arruinaria completamente". Pois ele havia perdido uma parte enorme das forças que trouxera consigo, e quase todos os seus amigos íntimos e principais comandantes; não havia outros homens para formar novos recrutas, e encontrou seus aliados na Itália recuando. Por outro lado, como que numa fonte constantemente fluindo para fora da cidade, o acampamento romano era preenchido rápida e abundantemente por novos recrutas, todos sem deixar sua coragem ser abatida pela perda que sofreram, mas sim extraindo de sua própria ira nova força e resolução para seguir adiante com a guerra."
Todos os gonçalenses atentos à sua própria cidade acompanharam o desenrolar da campanha de 2012 e podem testemunhar o esforço do candidato pelo PR, Neilton Mulim, em se tornar prefeito de São Gonçalo. Foi uma vitória apertada no primeiro tento sobre a deputada Graça Matos, esta então o apoia no segundo turno junto a outros atores políticos importantes que então se opunham ao candidato da prefeita Aparecida Panisset, seu pupilo sorongo Adolpho Konder.

Já sacramentados os acordos de gabinete, - que pelo bem da moralidade nunca serão postos ao torvelinho público - restava ao antagonista do panissetismo segurar firme o vento a seu favor e tornar crível o conto de fadas de suas promessas acreditando que jamais seria cobrado por elas. Afinal, desde Quinto Cicerón, sabemos que promessas numa campanha são para alimentar esperanças nos eleitores, não necessariamente para serem cumpridas.

E, assim, o Cícero desta freguesia, que foi aluno aplicado de Quintus Garotinho, nos encheu de esperança os nossos corações com a tarifa de transporte a UM E CINQUENTA e com o reajuste linear de todo o funcionalismo público a 20%. Foi eleito, claro. Eleito com os votos das gentes crentes no barateamento do transporte, com o fim da corrupção, no desmantelamento da 'república abençoada', na criação de uma empresa pública de coleta de lixo. Foi eleito com a ajuda de milhares de professores e professoras da rede pública de educação, das merendeiras, do funcionalismo que sua pra dar alguma dignidade à administração desfazendo bobagens de gente oportunista comissionada enxertada no poder público.

Mal completados 6 meses de governo, o espírito do tempo assombra e se instala nas escadarias da sede do poder máximo do município. Azar ou ironia, o que se ouvia na rua era justamente aquilo que Mulim supusera estar a caminho do esquecimento ou do folclore eleitoral. O povo cobrava, cobrava e cobrava do prefeito o que este sabia impossível. Mas, mesmo assim, um tanto atordoado e perplexo com o fenômeno nacional por mobilidade e que-tais, vem a público através da midia amiga local dar explicações e estabelecer datas para saciar o despertar da cidadania.

Eis que sabemos pelo seu lugar-tenente, - espécie de cardeal Richilieu às avessas, e que as más línguas afirmam ser o prefeito de fato, - ele, Sandro Almeida, que a equipe de governo não tinha a menor ideia de como pôr em prática a tarifa a R$ 1,50 nos transportes da cidade. Na ocasião afirmara não poder fazer muita coisa além de aprofundar os estudos de viabilidade orçamentária apenas para o ano de 2014, e que, diferentemente do que havia proposto na campanha, somente uma parcela da sociedade teria direito à 'tarifa social'.

O tempo passou e, ao invés de implantar o programa tarifário prometido, o governo, via decreto concede às empresas de transporte o aumento dos tão temidos e emblemáticos 20 centavos no início deste ano. Fato este que gerou reações ruidosas mesmo que tímidas nos movimentos sociais organizados da cidade, mas também uma revolta surda em toda a população que antes creditava em Mulim alguma credibilidade para tocar as transformações tão almejadas em São Gonçalo.

Não bastasse a Mulim o infortúnio político causado pelos novos tempos em todo o Brasil, vimos aqui em São Gonçalo o quão um governo pode ser inábil até em cuidar do seu próprio quintal. O funcionalismo, que aderiu entusiasmado à campanha do atual mandatário, hoje faz um movimento reivindicatório inédito na história da cidade, cobrando simplesmente aquilo que placidamente o candidato dizia ser possível: restituição de perdas e aumento salarial, profissionalização da burocracia e diminuição radical dos cargos políticos comissionados que, segundo informações da secretaria de administração, chegam a 5 mil, ou 40% de todo o funcionalismo municipal, número extremamente alto de aparelhamento da máquina pública.

Os professores e profissionais da rede de ensino municipal estão em greve desde o dia 25 de março fazendo diariamente manifestações em frente à prefeitura e não há sinais de que pretendam arrefecer o movimento. Pedem melhorias nas condições de trabalho, transparência e descentralização na distribuição de recursos e eleições diretas para as diretorias de escola. Aos professores, semanas depois, se juntaram os Agentes Comunitários de Saúde e mais recentemente os funcionários das secretarias de administração, fazenda e procuradoria.

O ineditismo do movimento  unificado do funcionalismo na cidade só se explica pelo surgimento e amadurecimento das suas respectivas organizações de classe, o SINDSPEF, sindicato dos funcionários efetivos e o SINACS-RJ, dos agentes comunitários de saúde, estes que vieram a se juntar ao velho e até pouco tempo solitário SEPE, dos professores. Os trabalhadores organizados e mobilizados nesta conjuntura pós-eleitoral não entraram no cálculo político do governo Mulin, e o imobilismo do prefeito frente às manifestações é um sinal claro de que falta entendimento sobre o que está acontecendo na sociedade como um todo.

Sobre isso, o vereador Marlos Costa (PT) nos dá algumas pistas acerca dessa São Gonçalo contemporânea:

"O que ocorre em São Gonçalo não pode ser apartado do que ocorre no restante do Brasil em cidades com perfis semelhantes. O ganho de renda dos trabalhadores os elevaram a um outro patamar de conquistas que ora se refletem em exigências nas melhorias do serviço público ora na melhoria de suas condições de trabalho. Os movimentos sociais que no final da década de 1980 e início de 1990 foram desarticulados muito por conta da cooptação do poder público, hoje ressurgem na cidade através da organização dos trabalhadores que não mais aceitam a continuidade de políticas provincianas na cidade. Tenho comigo a convicção de que uma mudança real em São Gonçalo se dará através do surgimento e fortalecimento da sociedade civil organizada, e não de salvadores da pátria que em nada, historicamente, favoreceram a democracia e as instituições. A decisão do prefeito em não dialogar com o funcionalismo frente a frente dá-nos a certeza de que ele não entende o que de novo está acontecendo na cidade. É um erro primário você brigar com a história que se constrói aos nossos olhos."

O também vereador pelo PT, Professor Paulo, presidente da comissão de educação da Câmara, provocado pelo comando de greve dos professores, teve acesso e publicou documento em que constava a relação das escolas e os seus devidos repasses de verbas municipais e do Fundeb. Isso provocou uma reação inusitada da secretária de educação do município, Regina Santos, reclamando formalmente ao prefeito a divulgação de tal documento que é público. A atitude da secretária acabou escancarando a política centralizadora do governo Mulim, desconstruindo o que vinha sendo praticado desde o governo de Henry Charles de autonomia das escolas. A secretária foi exonerada no que foi considerado pelos professores como sua primeira vitória, embora desconfiem das ações protelatórias do governo, em sua velha estratégia de enfraquecer o movimento reivindicatório por inércia.

Mulim, que se nega em receber a sua outrora base eleitoral, o funcionalismo, segue em sua cavalgada eleitoral em eleger o seu irmão Nivaldo para a Alerj. Este, vereador, que renunciou ao cargo de secretário de desenvolvimento social, parece que viu coisa tenebrosa na Câmara pro lado do governo. Os vereadores, que reclamam da postura estafeta do prefeito, não lhe dão sossego. Rejeitaram mensagem do governo - estapafúrdia- que daria às 1.500 vans o direito total e absoluto à bandalha. 14 vereadores deram um nó político no prefeito que está amarrado à lei de concessões de transporte na cidade. A decisão foi técnica, mas os desdobramentos políticos são irreparáveis.

O governo Mulim acabou. Vitória de Pirro.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A CHAPA ESQUENTOU. TIREM AS CRIANÇAS DA SALA!

Na reta final o que vale é a paixão...


Exausto leitor, vamos respirar fundo, contar até dez, que a eleição é logo ali.

Se alguém reclamou de um primeiro turno modorrento, eis que a atual fase da peleja nesta freguesia nos reservou fortes emoções em ambos os lados adversários.

Adolfo Konder (PDT), do alto de seus 17 pontos de vantagem no primeiro turno (obteve 42 contra 25 de Mulim) entrou, mesmo sem querer, numa perigosa zona de conforto, artificialmente ampliada após a adesão natural do PMDB estadual à campanha pedetista, mesmo desfalcado da candidata derrotada Graça Matos. Quem acompanha o blog sabe que já tratei do quadro de alianças antes e depois do primeiro turno. Konder, que já tinha os apoios no município e do governo federal, festejou, em grande júbilo, a conquista da "tríplice aliança" com a entrada entusiasmada do governo do estado na campanha.

As movimentações pedetistas deixaram Neilton Mulim (PR) isolado, sendo obrigado a se servir do que tinha à mão no mercado eleitoral gonçalense: a composição política com o presidente da Câmara, Eduardo Gordo, e mais 11 vereadores, entre atuais e eleitos. Uma movimentação que envolve, além de espaço no governo, a presidência da Câmara numa hipotética reeleição de Eduardo Gordo, que ainda espera julgamento no TSE.

A aliança Mulim-Gordo não foi bem digerida por parcela do eleitorado, e mesmo antes do lado de lá soltar o primeiro rojão para comemorar o tiro no pé do adversário, eis que surgem fatos logo explorados como políticos pela candidatura Mulim na conta da campanha pedetista. Primeiro, materiais de campanha do PR são destruídos por supostos vândalos à serviço da candidatura Konder. Depois, funcionários comissionados (políticos) da prefeitura são flagrados (sic) fazendo política (sic) para o candidato do governo. Bom, não resisto a um comentário: é como um moralista reclamar da paisagem de uma praia num lindo dia de sol...

Coisas de campanha, amado leitor. Nenhum vândalo foi pego e até agora nenhuma moça foi presa por atentado ao pudor, e, se fato ou factóide, o burburinho repercutiu na imprensa, televisão e, claro, nas redes sociais. Se era porco ou tomada, não sabemos. O caso criou uma cortina de fumaça no eleitorado ao mesmo tempo que serviu de antídoto contra qualquer investida pedetista à aliança construída por Mulim com o presidente da Câmara.

***

ECOS DO DEBATE

Foi ruim, morno e pouco esclarecedor. Mas registre-se o papel importante da OAB que desde 2008 se esforça em participar cada vez mais do dia a dia da cidade. Parabéns aos outros organizadores também.

Farei um resumo em cima daquilo que acho mais importante: como governar uma cidade enorme, com tantos problemas e com um orçamento baixíssimo para uma população como a nossa?

O desempenho individual dos candidatos foi sofrível. Mas até aí morreu Neves. Não estamos num concurso de miss simpatia. O que me interessou foi a resposta àquela pergunta acima.

O candidato Mulim (PR), da oposição, disse que vai governar com as "verbas carimbadas". É pouco. São Gonçalo é uma criança que precisa de ajuda (federal e estadual) para aprender a andar sozinha. A sua proposta de subsidiar o transporte público é inviável. Campos pode fazer isso. É autossuficiente devido à grana dos royalties. Até ele sabe disso, e para sustentar sua proposta e fechar a conta, utilizou-se do discurso anti-corrupção. São R$ 157 milhões o custo anual para os cofres públicos com a passagem a R$ 1,50.

Adolfo Konder foi mais assertivo e puxou o debate para o mundo real. Claro, é ele que tem as parcerias e usou e abusou desse fato como principal estratégia argumentativa para convencer o eleitor, sobretudo o eleitor indeciso. E acho que convenceu.    

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O PESO DAS ALIANÇAS EM SÃO GONÇALO

Amigo (e)leitor. Dia 28 é logo ali e a chapa esquenta. A peleja entre Konder e Mulim entra em sua fase final neste 2º turno e deixa clara pra gente os dois campos em disputa pela prefeitura.

Adolfo Konder (PDT), que no início da campanha era um ilustre desconhecido, segurou firme o timão e conseguiu chegar ao final do 1º turno com uma bela (e consolidada) vantagem frente aos seus concorrentes. Isso demonstra confiança da torcida pela equipe comandada pela professora Maria Aparecida desde 2005. A campanha de Adolfo Konder tinha três objetivos: óbvio, torná-lo conhecido ao eleitorado, colar à sua imagem à prefeita e ao seu bem avaliado governo e expor a necessidade de parcerias políticas para o desenvolvimento da pobre e sofrida cidade de São Gonçalo. Os quase 42% de preferência do eleitorado no 1º turno à candidatura Konder mostrou eficiência da estratégia pedetista.

Já a candidatura Neilton Mulim (PR), que chegou à frente de Graça Matos (PMDB) com pouco mais de 3 mil votos, montou uma chapa conservadora à direita, reunindo tucanos e demos, e precisou correr atrás do apoio da candidata derrotada para se manter competitivo na disputa. Por conta da presença de Anthony Garotinho em sua campanha, que impossibilitou o apoio do PMDB, sobrou para Mulin o apoio do PV, que saiu enfraquecido das eleições, e o apoio do grupo político do vereador e presidente da Câmara Eduardo Gordo, que congrega 11 parlamentares dentre os da atual legislatura e os marinheiros de primeira viagem.

Neste quadro, Adolfo Konder sai beneficiado porque não foi obrigado a mudar os rumos de sua estratégia do 1º turno. Pelo contrário. Os apoios do PMDB e do PP aprofundam a estratégia das parcerias, em que as maiores estrelas agora são o governador Sérgio Cabral e o senador Francisco Dornelles. Konder, que já tinha o apoio dos senadores Lindbergh e Crivela, além do apoio do governo federal,  fecha o arco de alianças e isola o adversário numa trincheira política que não se mostrou eficiente no 1º turno, que foi explorar o fato de Konder não ser natural de uma cidade onde 70% de sua população também não o é. O slogan Não Voto em Forasteiro definitivamente não funcionou.

Por força das circunstâncias, a candidatura do PR foi obrigada a fazer um ajuste na rota ao abrigar o grupo do vereador Eduardo Gordo em sua campanha e num hipotético governo. A notícia desta aliança não está sendo digerida com facilidade por uma parcela do eleitorado, que identifica em Eduardo Gordo o fisiologismo e tradicionalismo políticos tão praticados e cada vez mais rejeitados. Haja vista a renovação espetacular de 80% dos vereadores nesta eleição, e a própria queda da votação de Eduardo Gordo - que teve a sua candidatura impugnada pelo TRE sob a Lei da Ficha Limpa, mas espera julgamento do recurso no TSE.

Este apoio, portanto, deve ter um impacto mais negativo que positivo na campanha Mulim, sobretudo nos votos das camadas médias da sociedade gonçalense que migravam naturalmente para a sua candidatura após as derrotas de seus candidatos no 1º turno. A tendência, a partir de agora, é a escolha pelo voto nulo ou abstenção. Ou até o voto útil na candidatura Konder, porém em menor escala, para barrar a ameaça de vitória da política fisiologista e tradicionalista em São Gonçalo. Mulim deu um tiro no pé e, ironicamente, pode perder a eleição justamente por conta do apoio de políticos tradicionais da cidade.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

SÃO GONÇALO É O PARAÍSO DA OPOSIÇÃO

Meu nobre leitor, São Gonçalo é uma cidade enorme, ficou anos abandonada e por isso mesmo acumulou índices de desenvolvimento humano perversos. Aqui nesta freguesia, portanto, é mamão com açúcar o discurso da oposição colar num ouvido incauto.

Porém, permita-me fazer uma breve narrativa euclidiana acerca de tal geografia citadina à leste da província de São Sebastião do Rio de Janeiro, banhada pelo esgoto industrial que chamam Guanabara e fronteiriça à Praia Grande e às terras do Barão de Maricá e do Visconde.

A freguesia de São Gonçalo do Amarante possui pouco mais de 256 km² de terras quase que totalmente ocupadas por 1 milhão e tantas almas. É a 2º mais populosa do estado e a 16ª do Brasil. Mas esses dados nos dão uma falsa noção de grandeza levando em consideração o orçamento nanico de R$ 670 milhões que obriga o administrador ser bom no rebolado fiscal e flertar permanentemente com outras instâncias do poder a fim de fechar as contas e satisfazer ao cada dia mais exigente (e impaciente) contribuinte gonçalense. Para se ter apenas ideia de uma cidade parecida (mesmo que de longe) com São Gonçalo, Guarulhos tem uma receita de mais de 2 bilhões de reais por ano.

Fazendo uma matemática rudimentar, se distribuirmos o nosso quinhão pelas almas desta freguesia, teremos R$ 67,00 por cabeça. E se levarmos em consideração que 53% da "fortuna" arrecadada vai para o funcionalismo, restam pouco mais de 30 reais per capita gastos por ano com nossas crianças e velhos, tanto em educação e em saúde; pavimentação, manutenção dos semáforos etc, etc. e põe etc nisso. Daí, meu perplexo leitor, a nossa inevitável dependência aos cofres da União e do estado, tanto em repasses por força de lei como por força do entendimento e boa vontade políticos. Somos a cidade no Brasil que mais depende das voltas que a política dá para fazermos alguma coisa que não seja choramingar com pires na mão.

Por obra e graça dos gênios da raça papa-goiaba dos anos 50 e 60 do passado século XX, a freguesia foi incapaz de planejar o seu futuro a longo prazo, além de permitir o seu inchaço pelas franjas do município, de modo omisso e criminoso, seja pelos inacreditáveis loteamentos ou pela posse irregular de terras públicas em áreas de mangue às margens, da também mal planejada, BR 101. Some-se a isso o esvaziamento industrial sob o olhar impassível da rapaziada que ora residia à Feliciano Sodré, Nº 100, representação maior de nossa municipalidade.

Bem-quisto leitor. Sabes que te amo e em verdade vos digo: São Gonçalo é um problema. Ela não tem problemas. Ela mesma é o problema. Lamento dizer que aqui neste pedacinho de céu e terra de pipa e bola de gude da minha infância, foi-nos reservado indignação, sofrimento e resignação. Sim, porque durante muitos anos ficamos reféns de uma trama diabólica que nos empurrou para a periferia da periferia; uma trama que nos legou como depositório de gente, um lugar onde apenas permitido construir pracinhas sem coreto, que ao menos nos servisse de púlpito a levantar nossa voz contra aquele estado de coisas tão afeito à viralatice papa-goiaba que deixou imerso nas sombras o futuro desta cidade. Oxalá conosco estivesse o maior de todos os não-gonçalenses, Luiz Palmier, mas este aí morreu tristonho, creio, ao ver tanta patacoada.

Para uma parcela considerável de São Gonçalo, nada que se faça se corrige. É o melhor lugar para se fazer estágio oposicionista. Todos aqui são oposição. Ser de oposição nestas terras é quase um nirvana, uma catarse, que atinge até o mais fervoroso defensor do governo. Qualquer governo. Há uma expressão (e se não há, eu assumo a autoria) que fazer alguma coisa de bom por essas bandas é como esvaziar açude cheio com cumbuca rasa. Ninguém nunca vê o resultado. Os problemas são tantos e vários, que o governo tem que se policiar pra não esculhambar e fazer oposição a si mesmo também.

Então, leitor, peço serenidade e juízo no dia 28 de outubro do ano de Nosso Senhor de 2012.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PRA ONDE VÃO OS VOTOS DO JOSEMAR?

Neguim arretado

Primeiro, leitor, quero deixar o registro e os parabéns aos trepidantes militantes do PSOL gonçalense. E claro, em especial, ao Professor Josemar Carvalho, um querido colega e amigo. Conquistar os 19,5 mil votos com uma estrutura pequena de campanha numa cidade enorme como São Gonçalo é uma hercúlea tarefa.

Feito, aqui, o devido cafuné na rapaziada, vamos ao que interessa.

Pra onde vai esse capital (ops!) de quase 20 mil almas obtido por socialistas e comunistas no último dia 7 de outubro? Qual candidatura mais sentirá na face o sopro da primavera psolista, cantada em prosa e verso a partir do Rio de Janeiro com o gonçalense Marcelo Freixo?

Este escriba arrisca alguns palpites. Todos sabemos que o PSOL é uma dissidência do PT surgido após as tensões internas por obra e graça do (bendito ou famigerado, aí é ao gosto do freguês) escândalo do mensalão. Tanto Freixo quanto Josemar têm suas origens no Partido dos Trabalhadores. Ambos são fortemente guiados por suas convicções ideológicas e práticas políticas da esquerda socialista. Portanto, arrisco-me a dizer que é impossível o Professor Josemar apoiar o candidato de centro-direita Neilton Mulim, que tem o tonitroante Pastor Malafaia como aliado, cabo eleitoral e guia espiritual.

E, embora a candidatura Konder esteja num campo ideológico mais à esquerda, também não acredito que Josemar se decidirá em marchar com o PDT (que tem o PT como vice) no segundo turno. Por uma necessidade tática para obter votos, o PSOL foi o que mais bateu na gestão Aparecida e, consequentemente, em Adolfo Konder. Desta feita, creio que Josemar irá se abster no 2º turno. Mas, e os seus eleitores?

Divido os eleitores do PSOL nessas eleições em três categorias, em sua grande maioria jovens: os ideológicos, os ideológicos-inconformados e os pura e simplesmente inconformados. Os primeiros têm uma visão política mais ampla porque mais participativa, são informados e tendem a votar no campo da esquerda para isolar a direita na cidade. Os segundos são ativistas partidários que, por conta da visibilidade social e política na campanha, tendem a ter postura mais radical e pregar - não necessariamente votar - no voto nulo. Os terceiros desde o início serviram de linhas auxiliares das campanhas Graça e Mulim de ataque a Konder, utilizando-se e reforçando a linha de ataque promovida pelo PSOL ao governo e à candidatura de sua continuidade. Sempre foram, no fundo, mais anti-Konder do que qualquer outra coisa.

Na minha visão os votos ficarão divididos entre Konder, nulos e Mulim, com uma sensível vantagem para Konder.

Atualizando: veja nota do Professor Josemar que saiu no dia seguinte a esse post aqui.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

ÀS URNAS, GONÇALENSES!

Ele entendeu o zeitgeist gonçalense


Querido leitor e leitora deste blog. No dia sete de outubro do Ano de Nosso Senhor de 2012 voltaremos às urnas para eleger o futuro mandatário desta cidade e seus 27 parlamentares.

Novamente esta freguesia do beato boêmio não mereceu a devida atenção da mídia nativa e muito menos da capital da província. Fomos solenemente ignorados nos levantamentos eleitorais tradicionalmente produzidos nesta época pelos institutos de pesquisa a pedido das empresas de comunicação, o que nos deixa sem parâmetros objetivos para analisarmos "frame-a-frame" o pleito e as tendências de voto do eleitorado.

Portanto, abnegado leitor, tentarei fazer um levantamento político-partidário das três principais alianças em disputa formadas na cidade e que, em minha humilde visão, têm chances de vitória. São elas: Konder/Miguel, Graça/Rafael do Gordo e Mulim/Valviesse.

Falar da candidatura Konder é ter que falar necessariamente no governo da atual prefeita Aparecida Panisset, já que o candidato representa, grosso modo, a continuidade de um modelo de gestão posto à prova desde 2005, do qual passa por um referendo popular em 2008, quando os eleitores reconduziram a prefeita ao cargo por mais quatro anos ainda no primeiro turno com 56% dos votos válidos naquela ocasião.

Assim, peço a você fazer uma breve digressão sobre o que foi este governo que sempre teve em Adolfo Konder uma das principais figuras que o compuseram desde o primeiro dia daquele janeiro de 2005, fazendo com que muitos analistas políticos vestissem o pijama mais cedo sobre um colchão duro e errático de suas análises.

sábado, 22 de setembro de 2012

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

AS DORES DE CRESCIMENTO DE UMA CIDADE CHAMADA SÃO GONÇALO

Olá amigo leitor. Como sabemos, a freguesia de São Gonçalo do Amarante completará 122 anos de autonomia político-administrativa no dia 22 de setembro do ano de Nosso Senhor de 2012.

Este humilde escriba contribui para a compreensão desta cidade postando um especial com algumas observações sobre diversos temas que vão desde história, urbanismo, política e economia.

Boa leitura.

Imagem icônica de São Gonçalo: Igreja Matriz, no Bairro Zé Garoto, bem no centro de São Gonçalo


George Savalla, o nosso eterno Palhaço Carequinha, e Altay Veloso, músico e compositor de primeiríssima, são os nossos maiores ícones nativos da cultura nacional. Os dois ainda guardam semelhanças afetivas às terras de Gonçalo Gonçalves, colonizador português que batizou essas bandas ao leste da Capitania de São Sebastião do Rio de Janeiro com o nome de São Gonçalo do Amarante, beato católico transformado em santo protetor de todos os artistas e boêmios.

Tanto Savalla quanto Altay afirmaram jamais abandonar a cidade. O primeiro, morto em 2006 em sua casa, no bairro Zé Garoto, aos 90 anos, cumpriu a sua promessa de ser enterrado no cemitério de São Gonçalo, a poucos metros de onde morava. Já Altay Veloso, um dos maiores compositores da música popular brasileira, permanece no mesmo lugar aonde nasceu, no bairro Porto da Pedra. “Não vejo motivo para sair da cidade, mesmo com tantos problemas”, disse ao Apologia em 2008 o autor da ópera O Alabê de Jerusalém e tantos outros sucessos e pérolas do cancioneiro interpretados por artistas como Alcione, Emilio Santiago e Roberto Carlos.

São Gonçalo, município oficialmente criado em fins do século XIX, só assegurou plenamente a sua autonomia em 1930 ajudado pelos ventos da revolução que promoveu um rearranjo político-institucional no país, que alçou ao poder da república o gaúcho Getúlio Vargas. A cidade, que basicamente se resumia ao distrito de Neves em sua parcela mais urbana,  viveu a sua glória entre as décadas posteriores de 40 e 60, quando nessa mesma região até o Barreto foi erguido o maior complexo industrial do antigo estado do Rio de Janeiro.

domingo, 25 de setembro de 2011

EGOÍSMOS E ALTRUÍSMOS: AS LIÇÕES DO HUMANISMO CRISTÃO E O ENGAJAMENTO DOS INTELECTUAIS

Leitor, tu és a minha preciosidade. Estou revigorado neste domingo cinzento após ter a orgasmática experiência de ler o Mauro Santayana via Conversa Afiada (vou assinar o JB Online só por causa do Mauro).

Neste post está a seiva da vida e do seguir adiante num mundo em que a trapaça e o cinismo seguiram a mesma sofisticação da ciência moderna e contemporânea.

Depois de assistir o [quase] triunfo do pós-modernismo e sofrer com a desesperança e impotência frente ao mundo de mesquinharia que se desenhava para os meus filhos, mesmo assim, continuei firme nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade tal como nos apresentaram os franceses naquela primavera do século XVIII, espírito materializado na Enciclopédia, obra revolucionária que deu à razão humana autonomia e uma outra - e definitiva - concepção de Justiça.

Bom, emocionado e, repito, revigorado, deixo vocês com o Santayana.

GUERNICA, PABLO PICASSO: Líbia, Palestina, Somália, periferias do Brasil...



Em busca da razão perdida (2)


por Mauro Santayana

As grandes revoluções humanas não surgem espontaneamente. Elas, de certa forma, existem como possibilidade desde o início da História, mas são contidas pelas forças reacionárias. As idéias que as suscitam permanecem latentes, na obra de um ou outro pensador, seja nos ensaios, no teatro, nas narrativas épicas ou na poesia. Em alguns momentos, ganham força, mediante a discussão e o debate, e triunfam, mesmo que, algumas vezes, de forma efêmera.

As idéias, sem embargo de sua energia própria, dependem da ação. Os intelectuais, dizia, sem muita justiça, um dos precursores do Iluminismo, Erasmo de Rotterdam, são naturalmente medrosos. Isso só é válido para uma minoria, e de menor dimensão. A regra tem sido outra. Foram numerosos os homens de pensamento que tombaram em pleno combate, nas prisões ou nas terríveis condições da clandestinidade. Sem ir longe no passado, o século 20 foi exemplar nessa necessidade da inteligência em se fazer ação, como ocorreu na  na memorável resistência contra os nazistas, os fascistas e os franquistas – e na luta pela autodeterminação dos povos contra o totalitarismo imperialista. A política é a práxis da razão, e, sem ela, o pensamento permanece encapsulado na teoria, ou, seja, na contemplação.

O grande motor do século 19, o do fulgor do Iluminismo, foi L’Enciclopédie, Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers. Tratou-se de uma empresa, que nasceu com o interesse comercial de editores franceses – chefiados pelo maior deles, na época, Le Breton – empenhados na tradução da Cyclopaedia, dicionário universal inglês de Ephraim Chambers. Le Breton convidou D’Alembert e Diderot para a tarefa. Ambos entenderam que não bastava a tradução de um dicionário que, circulando desde 1728, já se encontrava perempto, e se limitava a uma erudição de natureza clássica, distanciada das inquietações práticas de 1747. Se o dicionário de Chambers tratava das artes e das ciências, Diderot acrescentou, para a sua enciclopédia,  os verbetes sobre os ofícios profissionais. Dedicou grande parte às ilustrações, que, sobretudo no caso dos ofícios, contribuíram para que a obra servisse como  manual de instruções.

Perseguida pela Igreja, uma vez que era essencialmente materialista, e incluída no Índex;   mal vista pela monarquia, por reivindicar as liberdades políticas, a Enciclopédia passou por inúmeras dificuldades e chegou a ser proibida. Diderot foi preso por algum tempo, D’Alembert desistiu de ser o co-editor, a partir do volume oitavo, e os últimos tomos foram impressos e distribuídos clandestinamente. O custo era altíssimo. Quando relembramos que a composição, tipo por tipo, era manual, e as chapas, armadas uma a uma, em operação demorada, podemos imaginar o dinheiro necessário apenas para o trabalho tipográfico. Mais de dois mil gráficos trabalharam durante os vinte e um anos de edição, transcorridos entre o primeiro e o último dos 28  volumes, 11 deles só de ilustrações.

A Enciclopédia foi empreendimento revolucionário, e disso Diderot tinha plena consciência. A publicação serviu para derrubar os pilares do poder feudal de uma nobreza ociosa e parasitária, que consumia a maior parte dos recursos obtidos com o trabalho dos franceses; serviu como fermento da Revolução Francesa e a derrocada da monarquia; combateu a Igreja, que, sócia privilegiada da opressão e monitora do pensamento, ameaçava os intelectuais com os dogmas e mantinha os néscios submissos, mediante a ameaça do inferno. Como as luzes vinham de várias fontes, Diderot escolheu para o subtítulo da obra a trilogia do inglês Francis Bacon,  que assim resumia as operações da mente: Memória, Razão e Imaginação.

Diderot foi mais do que seu diretor intelectual. Coube-lhe buscar os subscritores – o que representava para cada um deles a aplicação de uma pequena fortuna – entre os ricos mais esclarecidos, os pioneiros da indústria e do comércio e alguns banqueiros, como o mais eminente financista de Paris, Jacques Necker, que viria a ser a figura chave na Queda da Bastilha. Durante muito tempo, os enciclopedistas foram acolhidos no salão de Madame Necker, onde as novas idéias eram livremente debatidas.

O autor de “A Religiosa” agiu, ao mesmo tempo, como pensador, militante político e ativo empreendedor. Usando recursos que hoje encontramos na internet, como a remissão dos assuntos a outros verbetes, a inclusão das fontes de informação e referências bibliográficas, o que hoje chamamos de hiperlink. O texto incitava à ampliação crítica da informação, com o fantástico resultado que a História registra. E a empreitada fascinou todos os que a ela se associaram. O caso mais notável desse empenho foi o de Louis de Jacourt, um intelectual muito rico e de grande saber, que se formara em teologia, em Genebra, ciências naturais em Cambridge e medicina, em Leiden, na Holanda. Jacourt, sozinho, redigiu um quarto de todos os verbetes da Enciclopédia, sem cobrar um centavo pelo seu trabalho. Ao contrário, contratou vários assessores, que o ajudaram na exaustiva pesquisa daqueles tempos, e lhes pagou com seu próprio dinheiro.

Mesmo quando sua distribuição teve que ser clandestina, a Enciclopédia era discutida em todos os salões. Suas idéias estimularam o aparecimento de novos pensadores, que se somaras à elite da razão daquele tempo, formada por homens muitos deles nobres, como foram como Montesquieu, Grimm e Holbach. Eles se somaram a livres pensadores, como Voltaire, D’Alembert, Condorcet, Daubeton, Rousseau, Turgot e Quesnay, e a mulheres como Mme. D’Epinay, Sophie Volland, Mme Necker – e a notável proteção financeira a Diderot, de Catarina, a imperatriz da Rússia, para abrir o caminho do século seguinte.


Em busca da razão perdida (3)

O Iluminismo conduziu o mundo, durante o século 19 e a maior parte do século 20. A oposição que sofreu, no início dos oitocentos, com o Romantismo, foi débil, e só se manifestou de forma mais forte nas artes, sobretudo na literatura. Hegel e Marx, nas  idéias sociais, ou seja, políticas, são dois dos maiores frutos do século 18. Um se seguiu ao outro, e de seu pensamento surgiram os grandes movimentos revolucionários do século passado. Apesar disso, os resultados mais espetaculares das luzes parecem ter ocorrido na ciência e na tecnologia.