quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
terça-feira, 15 de novembro de 2011
O DIFÍCIL CAMINHO PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Meu antenado leitor, posto agora mais um artigo do meu grande amigo Mauricio Mendes de Oliveira.
O assunto é mídia e democratização dos meios.
Esse texto é de 2008 e da safra do glorioso Jornal Apologia.
Boa leitura.
O
DIFÍCIL CAMINHO PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
O assunto é mídia e democratização dos meios.
Esse texto é de 2008 e da safra do glorioso Jornal Apologia.
Boa leitura.
O
DIFÍCIL CAMINHO PARA A DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Por Mauricio Mendes de Oliveira
O artigo 5º, seção IX da
constituição federal é bem incisivo: "É livre a expressão da atividade
intelectual, artística, científica, e de comunicação, independentemente de
censura ou licença”. No entanto,
desde 2003 o governo Lula vem se utilizando da ANATEL para perseguir de forma
inclemente as rádios comunitárias, onde é apreendido todo equipamento da
emissora, como também, são ameaçados e até agredidos todo o pessoal técnico. Esses
procedimentos seriam perfeitamente naturais se partissem de quadros de partidos
conservadores, pois afinal de contas, são agrupamentos comprometidos com o
“status quo”, devendo a sua existência a defesa dos tubarões da mídia.
Mas no momento que o governo federal usa a legislação de forma distorcida,
valendo-se de argumentos mentirosos como o perigo a navegação aérea, por
exemplo, com o claro intuito de proteger as grandes redes comerciais de
comunicação, chegamos à conclusão que esse governo dito de esquerda e seus
aliados vomitaram todo o ideário de luta proferido por duas décadas.
Essa guinada de 180º pode ser explicada: As rádios comunitárias são os
veículos mais eficazes para o estabelecimento de uma “contra-mídia”, pois essas
emissoras existem para promover a cutltura, educação, o desenvolvimento
sócio - político nas comunidades e criar
uma mentalidade solídária , impensável para emissoras comercias que estão
voltadas exclusivamente para o lucro. O pior de tudo isso é que o governo, a
ANATEL e mesmo a Polícia Federal são indulgentes com as emissoras evangélicas, conhecidas
promotoras do ódio religioso e do fundamentalismo em clara violação a liberdade
religiosa prevista na constituição.
Esse quadro se torna mais sombrio
quando agrupamentos que se arrogam como “revolucionários” subestimam a
relevância do uso da mídia como forma de combater a ordem vigente, normalmente
sob o argumento que os equipamentos de rádio e T.V. são muito caros, e,
portanto, inviáveis para servirem de ferramenta para a militância. Tal
argumento é muito pouco consistente, pois se há o compromisso com a dita
“revolução permanente”, devem lembrar que ela só se materializa através de ações
contra – hegemônicas.
Assim, essas organizações de uma forma geral são omissas perante as
arbitrariedades da ANATEL, não tem como bandeira a luta a democratização dos
meios de comunicação, não vem levando nenhum debate relevante sobre a entrada
da T.V. digital e sequer acenam com alguma mobilização para a intervenção da sociedade
na decantada TV pública, ou melhor, a nova TV Brasil. O seu pensamento
retrogrado é de tal ordem que insistem em se restringir a mídia impressa de
pouco alcance ,atingindo somente um poucos e disciplinados militantes, enquanto
as grandes redes de rádio e TV veiculam a sua “verdade” para uma população sem
esperança.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
O DIA EM QUE A METRÓPOLE TENTA RECONQUISTAR A FREGUESIA
O PT é sensacional mesmo. E hoje escreve mais um capítulo dessa novela hamletiana-rocambolesca de ter ou não candidatura própria.
O maior e mais organizado partido da América latina é o único em que exige em suas fileiras cabras-macho ou severinas. As disputas internas entre suas tendências são verdadeiras aulas de política. Às vezes irrita, mas o saldo é positivo.
Recentemente escrevi em meu blog que a imposição da metrópole (diretório do Rio) em forçar goela-abaixo a candidatura do deputado Palmares aos caboquim da freguesia de São Gonçalo do Amarante seria um tiro de garrucha no pé. Dito e feito. A rebelião na colônia (diretório de SG) foi imediata e favoreceu uma união inusitada entre os nativos mais ilustres do PT gonçalense: os vereadores Marlos e Miguel Moraes que, juntos, articularam o grito de independência frente à monarquia da Casa dos Lindinhos.
Marlos não fugiu à luta e, às margens do Rio Imboaçú, bradou: Independência ou Pijama! chamando Palmares para o campo aberto da disputa. O diretório dessas bandas mudou a sua orientação a favor de Palmares para seguir junto com o PDT, como queria Marlos e Miguel.
Na ocasião, Marlos ameaçou não concorrer à reeleição caso o diretório municipal se submetesse às ordens da Capital da Província. “O PT deve ser construído pela vontade das bases locais e não pelo revanchismo mesquinho de uma minoria derrotada nos debates internos do partido”, encerra Marlos.
Independência ou Pijama |
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
A PROFESSORA E EU
Caríssimo leitor. Tenho comigo algumas maledicências que roço ao ouvido desde que nossa honorável prefeita falou à radio de ondas curtas pertencente ao maior conglomerado de comunicação do país.
Há pouco disse, abaixo, numa dessas peças caboquianas deste escriba, que ouço vozes.
Sim. VOZES. Essa coisa de doido.
Dessa vez não. Era bem real a mesa de madeira e a cerveja cara. Ali, eu [se vê] e essa praga de gente que só faz pergunta óbvia pra resposta difícil.
Deves saber: pergunta de criança. A pior das perguntas.
_ Aparecida é uma anta - esbraveja já sem paciência o amigo.
O amigo em questão se referia ao palavrório do Canázio na Globo AM. Eu nada disse.
Antes veio à cabeça a professora.
Maria Aparecida Panisset foi minha professora.
Não vejo a prefeita. Vejo a minha professora Maria Aparecida. Assim como o giz que a irritava marcava o seu nome na lousa com a história que o Estado, através da escola, nos obrigava a conhecer.
Nos odiávamos mutuamente. É, ela e eu.
[Claro, esqueci! (...): Colégio Paraíso. 1987. 5ª Série]
A professora Maria Aparecida não tinha muita paciência comigo. Invariavelmente era expulso da classe por ela. Isso era uma espécie de provação-limite; a exposição pedagógica à vergonha e à culpa. Punição máxima que, hoje tenho certeza, se aproxima a uma espécie de sadismo dos inocentes.
A professora de História Maria Aparecida não era intelectual. Não. Se trouxesse consigo tal dote ali, nos anos 80, fumaria maconha, ouviria roquenrol e seria de esquerda.
Mesmo hoje, olhando para trás, e sabendo de sua trajetória que é simplesmente espetacular, não consigo saber exatamente quem era aquela professora. O que vem à mente é uma mulher com forte e inabalável convicção moral e de valores. Carregava já um messianismo retórico latente.
Sei porque fui sua tábua rasa. Eu sou testemunha da sua força - quase obsessão -, perseverança, empenho e convicção em me fazer odiar história.
Como disse acima, nos odiávamos mutuamente.
Lembro da pergunta do amigo que originou essas divagações. Delas não fujo, e faça saber agora: Aparecida Panisset é uma melodia que é a própria transcendência de São Gonçalo. O seu moralismo e messianismo professoral eram a luva que este caldo de cultura borbulhante do pentecostalismo nativo precisava.
Graça "macumbeira" num jornal apócrifo foi o último ato da ciência política levada ao extremo no Brasil. Foi a bolinha de papel que deu certo. Isso é apenas um parêntese, leitor...
Aparecida Panisset é a figura política mais importante de toda a história da cidade ao lado de Joaquim Lavoura. E digo: ela quer o estado. Essa entrevista é sua avant première na política fluminense com a armadura de um governo bem avaliado. Governo de uma cidade que é fundamental em qualquer eleição.
A entrevista? Bola para a professora a meia-altura que pegou de voleio e fez de placa. Talvez escorregara na própria ignorância quando deu a entender que a linha 02 Circular era concessão estadual não tendo a prefeitura nada a ver com o martírio dos usuários dos ônibus da empresa Estrela.
Parece a mim Canázio bobão. Ficou feio à beça ao Canázio paladino do povo gonçalense escancarar ignorância e preconceito, frases prontas achando que meu amigo não vá perceber o circo:
_ Helcio, esses caras tão pouco se lixando pra gente. Que merda é essa? Essa cidade não tem plano de desenvolvimento urbano próprio. Parece que São Gonçalo existe por osmose...
É...., continua.
Há pouco disse, abaixo, numa dessas peças caboquianas deste escriba, que ouço vozes.
Sim. VOZES. Essa coisa de doido.
Dessa vez não. Era bem real a mesa de madeira e a cerveja cara. Ali, eu [se vê] e essa praga de gente que só faz pergunta óbvia pra resposta difícil.
Deves saber: pergunta de criança. A pior das perguntas.
_ Aparecida é uma anta - esbraveja já sem paciência o amigo.
O amigo em questão se referia ao palavrório do Canázio na Globo AM. Eu nada disse.
Antes veio à cabeça a professora.
Maria Aparecida Panisset foi minha professora.
Não vejo a prefeita. Vejo a minha professora Maria Aparecida. Assim como o giz que a irritava marcava o seu nome na lousa com a história que o Estado, através da escola, nos obrigava a conhecer.
Nos odiávamos mutuamente. É, ela e eu.
[Claro, esqueci! (...): Colégio Paraíso. 1987. 5ª Série]
A professora Maria Aparecida não tinha muita paciência comigo. Invariavelmente era expulso da classe por ela. Isso era uma espécie de provação-limite; a exposição pedagógica à vergonha e à culpa. Punição máxima que, hoje tenho certeza, se aproxima a uma espécie de sadismo dos inocentes.
A professora de História Maria Aparecida não era intelectual. Não. Se trouxesse consigo tal dote ali, nos anos 80, fumaria maconha, ouviria roquenrol e seria de esquerda.
Mesmo hoje, olhando para trás, e sabendo de sua trajetória que é simplesmente espetacular, não consigo saber exatamente quem era aquela professora. O que vem à mente é uma mulher com forte e inabalável convicção moral e de valores. Carregava já um messianismo retórico latente.
Sei porque fui sua tábua rasa. Eu sou testemunha da sua força - quase obsessão -, perseverança, empenho e convicção em me fazer odiar história.
Como disse acima, nos odiávamos mutuamente.
Lembro da pergunta do amigo que originou essas divagações. Delas não fujo, e faça saber agora: Aparecida Panisset é uma melodia que é a própria transcendência de São Gonçalo. O seu moralismo e messianismo professoral eram a luva que este caldo de cultura borbulhante do pentecostalismo nativo precisava.
Graça "macumbeira" num jornal apócrifo foi o último ato da ciência política levada ao extremo no Brasil. Foi a bolinha de papel que deu certo. Isso é apenas um parêntese, leitor...
Aparecida Panisset é a figura política mais importante de toda a história da cidade ao lado de Joaquim Lavoura. E digo: ela quer o estado. Essa entrevista é sua avant première na política fluminense com a armadura de um governo bem avaliado. Governo de uma cidade que é fundamental em qualquer eleição.
A entrevista? Bola para a professora a meia-altura que pegou de voleio e fez de placa. Talvez escorregara na própria ignorância quando deu a entender que a linha 02 Circular era concessão estadual não tendo a prefeitura nada a ver com o martírio dos usuários dos ônibus da empresa Estrela.
Parece a mim Canázio bobão. Ficou feio à beça ao Canázio paladino do povo gonçalense escancarar ignorância e preconceito, frases prontas achando que meu amigo não vá perceber o circo:
_ Helcio, esses caras tão pouco se lixando pra gente. Que merda é essa? Essa cidade não tem plano de desenvolvimento urbano próprio. Parece que São Gonçalo existe por osmose...
É...., continua.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
O PRÉ-SAL E A QUESTÃO DO FEDERALISMO BRASILEIRO
Taí, leitor, um belo artigo do intelectual e amigo Mauricio Mendes de Oliveira.
O pré-sal e as contradições do pacto federativo brasileiro
Por Mauricio Mendes de Oliveira
A questão da partilha dos royaltes do pré – sal recolocou na ordem do dia um debate que há muito tempo está adormecido: o federalismo no Brasil, que muitos companheiros com certeza acharão estranho, mas que é pertinente ser abordado, tendo em vista as possíveis seqüelas sócio-econômicas que virão devido à distribuição dos lucros dos hidrocarbonetos para todos os estados brasileiros.
Longe de fazer coro aos discursos de viés populista dos governadores Paulo Hartung e Sérgio Cabral, ou referendar, o oportunismo eleitoreiro dos prefeitos capixabas e fluminenses, a reivindicação dos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro por uma maior fatia nos futuros dividendos na extração, refino e distribuição dos hidrocarbonetos é uma demanda perfeitamente justa. No entanto, se faz necessário esclarecer os limites dessa república pretensamente federativa chamada Brasil.
Para iniciar um debate consistente sobre o pacto federativo, devemos recuar no tempo, especificamente na chamada “república velha”, conjuntura histórica onde as antigas províncias que formavam o império foram transformadas em estados autônomos, verdadeiros “países” dado o grau de independência que a Constituição Federal de 1891 lhes concedia, ou melhor, as suas então oligarquias agrárias.
Tal autonomia garantia aos estados uma constituição própria (em consonância com a carta federal), o direito de contrair empréstimos no exterior, o estabelecimento do seu próprio legislativo e constituir uma então chamada “força pública” (as atuais polícias militares), que em alguns estados, chegou a ser tão equipado quanto o exército brasileiro e foi fundamental para a contenção do banditismo (sobretudo no nordeste) e dos emergentes movimentos sociais
Tratava-se de uma federação que beneficiava uma oligarquia agro-exportadora, sobretudo dos estados cafeicultores de São Paulo e Minas Gerais que se alternaram na hegemonia política do país entre 1898 e 1926, momento em que a chamada política do “café com leite” entra em crise que irá culminar na “Revolução” de 1930 e a ascensão do gaucho Getúlio Vargas.
A “Revolução de 1930” aprofunda o declínio do federalismo, que tem seu desfecho no golpe do Estado Novo em 1937, quando as bandeiras estaduais são queimadas em praça pública em um ato solene. A subtração da autonomia dos estados fora uma necessidade para um regime que pretendia orientar a passagem de uma economia agrária para outra industrial voltada para substituir importações, e assim posto, tal diretriz só poderia avançar através de um estado unitário e centralizado.
Assim, o governo federal tomou para si a responsabilidade de dotar o país de uma infra-estrutura capaz de favorecer o setor secundário: a criação do IBC (Instituto Brasileiro do Café), do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) e a manutenção dos latifúndios foram compensações para as elites agrárias que perderam uma fatia do poder com a centralização.
Nesse contexto, o governo federal toma a iniciativa de formar uma nova elite intelectual com a ampliação da Universidade do Brasil (atual UFRJ) e a criação da USP (Universidade de São Paulo). A criação do IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística) visava mensurar o potencial humano e os recursos naturais disponíveis no território brasileiro com o fim de potencializar a industrialização.
A centralização era construída ideologicamente através da Rádio Nacional, que em suas ondas curtas, abrangia a quase totalidade do território nacional e foi fundamental para justificar a idéia de “unidade” territorial e o conceito de “brasilidade” em oposição ao regionalismo. Não foi por acaso que a emissora promoveu o lançamento de cantores regionais como Lupicínio Rodrigues (RS), Luiz Gonzaga (PE), a dupla caipira Jararaca e Ratinho (interior de São Paulo) e outros. Além disso, os clubes de futebol do Rio de Janeiro ganham abrangência nacional graças a Rádio Nacional.
A supressão da autonomia prosseguiu no governo de Juscelino, que com a construção e transferência da capital federal para Brasília, iniciou-se a “marcha para o oeste” cujo objetivo era ocupar os “espaços vazios”. Nesse momento se aprofunda a migração de nordestinos para o eixo Rio-São Paulo, sede das indústrias nacionais e transnacionais que necessitavam de um ' “exército industrial de reserva”, ou seja, o capitalismo no Brasil (periférico e dependente) se forjou com a centralização administrativa e a dês-territorialização de populações inteiras.
As constituições de 1937, 1946, 1967 seguiram com a orientação de reduzir a autonomia dos estados ao mínimo: durante o período militar (1964-1985) o governo federal continuou “adulando” as elites estaduais com a criação de organizações de fomento estatais como a SUDENE (nordeste), SUDAM (Amazônia) e SUDECO (centro oeste), onde eram alocadas as “clientelas” ou a extensas “parentelas”, que nada mais foram do que uma continuidade do “coronelismo” rejuvenescido em outras instâncias além do poder local.
Dentre os projetos “faraônicos” desse período, destaca-se a construção da desastrosa rodovia Transamazônica em plena crise do petróleo nos anos 1970. Além disso, os militares aumentaram a representação parlamentar de estados mais pobres do norte e nordeste para se perpetuarem no poder, pois estavam perdendo legitimidade nos estados mais desenvolvidos do centro-sul.
A Constituição de 1988 que deveria corrigir tais distorções no pacto federativo no Brasil prosseguiu com os equívocos: se no senado federal a paridade entre os estados foi contemplada com o direito a cada estado um número de três representantes, na câmara dos deputados a desigualdade instituída em 1977 pelos militares persistiu, onde a nova carta magna limita o número de parlamentares por estado em um mínimo de oito e no máximo setenta, ou seja, a proporcionalidade não passa de uma falácia. Para se ter uma dimensão dessa distorção, o voto de um cidadão do subpovoado estado de Roraima vale por aproximadamente treze cidadãos do dinâmico e populoso estado de São Paulo.
Sobre os recursos naturais, a constituição também é dúbia: o capítulo III, artigo 26, incisos I, II e III garante as unidades da federação o domínio sobre as ilhas oceânicas, faixa costeira e águas superficiais, porém, o capítulo II, artigo 20, inciso V reserva a união a posse dos recursos naturais na plataforma continental e na ZEE (Zona Econômica Exclusiva), ou seja, o governo federal tem o poder sim para distribuir os royaltes do petróleo entre os 26 estados brasileiros.
No entanto, isso não significa que não se deva lutar pela instituição de uma federação de verdade, pois o Brasil já está amplamente inserido em uma economia de mercado, com um desenvolvimento econômico já maduro, e, portanto, não é necessária essa excessiva centralização.
Se alguns militantes do PT defendem tal regime de partilha, acreditando que essa ação permitirá ao país conduzir os recursos captados pela união para os diversos setores industriais e no desenvolvimento do bem estar social, queremos lembrar que não se construirá uma economia diversificada – e tampouco – uma pretensa justiça social, com a falta de autonomia das unidades federadas, já que essa pretensa partilha irá beneficiar os grupos com maior poder político, e por extensão, econômico.
Por exemplo: Por que devemos seguir as orientações do PT ”paulista” se nossa realidade social é peculiar em relação ao resto do país? Ao contrário do resto do Brasil, temos uma vocação cosmopolita que foi construída desde os tempos coloniais, ou seja, sempre tivemos referência de uma sociedade aberta ao mundo, e, portanto, tendemos a avaliar conjunturas com mais clareza.
Isso talvez tenha atrofiado o nosso regionalismo, mas que não significa que não tenhamos o senso crítico de defender os interesses do povo fluminense (ou carioca como queiram), pois afinal de contas, a redução dos royalties do petróleo irá comprometer muitas expectativas de modernização do nosso estado.
Longe de ser um saudosista das centenárias oligarquias regionais (nem temos um histórico disso), acredito que seja preciso fazer um exercício sobre o papel da federação no Brasil, cujo momento exige avaliá-la de acordo com o contexto nacional nesse início do século XXI, onde a opinião pública embora mal informada se encontre bem atenta aos acontecimentos políticos no país.
Assim, a derrota dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo no Congresso Nacional pelo direito aos royalties do petróleo se deu pela falta de politização dessa demanda que impediu a mobilização popular, pois em momento algum ficou claro os prejuízos que as populações fluminenses e capixabas seriam submetidas. Através das redes sociais (fecebook, Orkut, e outros) é possível mobilizar milhares de cidadãos e não houve qualquer esclarecimento a respeito.
Considerando que os militantes do nosso partido poderiam ter cumprido essa função, estamos sentindo na carne o preço da falta de formação política e o abandono do trabalho de base. Muitos companheiros por certo aprovaram a partilha estabelecida pelos deputados em Brasília, pois acreditam candidamente que a riqueza deva ser distribuída paritariamente entre todas as unidades federadas - ou melhor, entre os brasileiros – o que é sem dúvida louvável, no entanto, preocupante em longo prazo.
Relembrando, tais companheiros não deverão perder de vista que em alguns estados não produtores, tal idéia de partilha partiu de grupos conhecidamente reacionários e oriundos das velhas oligarquias locais (vide o clã Sarney no Maranhão), que jamais tiveram o interesse de distribuir qualquer tipo de riqueza com a população. E isso é um bom motivo para debater sobre esse dito “federalismo”.
O pré-sal e as contradições do pacto federativo brasileiro
Por Mauricio Mendes de Oliveira
A questão da partilha dos royaltes do pré – sal recolocou na ordem do dia um debate que há muito tempo está adormecido: o federalismo no Brasil, que muitos companheiros com certeza acharão estranho, mas que é pertinente ser abordado, tendo em vista as possíveis seqüelas sócio-econômicas que virão devido à distribuição dos lucros dos hidrocarbonetos para todos os estados brasileiros.
Longe de fazer coro aos discursos de viés populista dos governadores Paulo Hartung e Sérgio Cabral, ou referendar, o oportunismo eleitoreiro dos prefeitos capixabas e fluminenses, a reivindicação dos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro por uma maior fatia nos futuros dividendos na extração, refino e distribuição dos hidrocarbonetos é uma demanda perfeitamente justa. No entanto, se faz necessário esclarecer os limites dessa república pretensamente federativa chamada Brasil.
Para iniciar um debate consistente sobre o pacto federativo, devemos recuar no tempo, especificamente na chamada “república velha”, conjuntura histórica onde as antigas províncias que formavam o império foram transformadas em estados autônomos, verdadeiros “países” dado o grau de independência que a Constituição Federal de 1891 lhes concedia, ou melhor, as suas então oligarquias agrárias.
Tal autonomia garantia aos estados uma constituição própria (em consonância com a carta federal), o direito de contrair empréstimos no exterior, o estabelecimento do seu próprio legislativo e constituir uma então chamada “força pública” (as atuais polícias militares), que em alguns estados, chegou a ser tão equipado quanto o exército brasileiro e foi fundamental para a contenção do banditismo (sobretudo no nordeste) e dos emergentes movimentos sociais
Tratava-se de uma federação que beneficiava uma oligarquia agro-exportadora, sobretudo dos estados cafeicultores de São Paulo e Minas Gerais que se alternaram na hegemonia política do país entre 1898 e 1926, momento em que a chamada política do “café com leite” entra em crise que irá culminar na “Revolução” de 1930 e a ascensão do gaucho Getúlio Vargas.
A “Revolução de 1930” aprofunda o declínio do federalismo, que tem seu desfecho no golpe do Estado Novo em 1937, quando as bandeiras estaduais são queimadas em praça pública em um ato solene. A subtração da autonomia dos estados fora uma necessidade para um regime que pretendia orientar a passagem de uma economia agrária para outra industrial voltada para substituir importações, e assim posto, tal diretriz só poderia avançar através de um estado unitário e centralizado.
Assim, o governo federal tomou para si a responsabilidade de dotar o país de uma infra-estrutura capaz de favorecer o setor secundário: a criação do IBC (Instituto Brasileiro do Café), do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) e a manutenção dos latifúndios foram compensações para as elites agrárias que perderam uma fatia do poder com a centralização.
Nesse contexto, o governo federal toma a iniciativa de formar uma nova elite intelectual com a ampliação da Universidade do Brasil (atual UFRJ) e a criação da USP (Universidade de São Paulo). A criação do IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística) visava mensurar o potencial humano e os recursos naturais disponíveis no território brasileiro com o fim de potencializar a industrialização.
A centralização era construída ideologicamente através da Rádio Nacional, que em suas ondas curtas, abrangia a quase totalidade do território nacional e foi fundamental para justificar a idéia de “unidade” territorial e o conceito de “brasilidade” em oposição ao regionalismo. Não foi por acaso que a emissora promoveu o lançamento de cantores regionais como Lupicínio Rodrigues (RS), Luiz Gonzaga (PE), a dupla caipira Jararaca e Ratinho (interior de São Paulo) e outros. Além disso, os clubes de futebol do Rio de Janeiro ganham abrangência nacional graças a Rádio Nacional.
A supressão da autonomia prosseguiu no governo de Juscelino, que com a construção e transferência da capital federal para Brasília, iniciou-se a “marcha para o oeste” cujo objetivo era ocupar os “espaços vazios”. Nesse momento se aprofunda a migração de nordestinos para o eixo Rio-São Paulo, sede das indústrias nacionais e transnacionais que necessitavam de um ' “exército industrial de reserva”, ou seja, o capitalismo no Brasil (periférico e dependente) se forjou com a centralização administrativa e a dês-territorialização de populações inteiras.
As constituições de 1937, 1946, 1967 seguiram com a orientação de reduzir a autonomia dos estados ao mínimo: durante o período militar (1964-1985) o governo federal continuou “adulando” as elites estaduais com a criação de organizações de fomento estatais como a SUDENE (nordeste), SUDAM (Amazônia) e SUDECO (centro oeste), onde eram alocadas as “clientelas” ou a extensas “parentelas”, que nada mais foram do que uma continuidade do “coronelismo” rejuvenescido em outras instâncias além do poder local.
Dentre os projetos “faraônicos” desse período, destaca-se a construção da desastrosa rodovia Transamazônica em plena crise do petróleo nos anos 1970. Além disso, os militares aumentaram a representação parlamentar de estados mais pobres do norte e nordeste para se perpetuarem no poder, pois estavam perdendo legitimidade nos estados mais desenvolvidos do centro-sul.
A Constituição de 1988 que deveria corrigir tais distorções no pacto federativo no Brasil prosseguiu com os equívocos: se no senado federal a paridade entre os estados foi contemplada com o direito a cada estado um número de três representantes, na câmara dos deputados a desigualdade instituída em 1977 pelos militares persistiu, onde a nova carta magna limita o número de parlamentares por estado em um mínimo de oito e no máximo setenta, ou seja, a proporcionalidade não passa de uma falácia. Para se ter uma dimensão dessa distorção, o voto de um cidadão do subpovoado estado de Roraima vale por aproximadamente treze cidadãos do dinâmico e populoso estado de São Paulo.
Sobre os recursos naturais, a constituição também é dúbia: o capítulo III, artigo 26, incisos I, II e III garante as unidades da federação o domínio sobre as ilhas oceânicas, faixa costeira e águas superficiais, porém, o capítulo II, artigo 20, inciso V reserva a união a posse dos recursos naturais na plataforma continental e na ZEE (Zona Econômica Exclusiva), ou seja, o governo federal tem o poder sim para distribuir os royaltes do petróleo entre os 26 estados brasileiros.
No entanto, isso não significa que não se deva lutar pela instituição de uma federação de verdade, pois o Brasil já está amplamente inserido em uma economia de mercado, com um desenvolvimento econômico já maduro, e, portanto, não é necessária essa excessiva centralização.
Se alguns militantes do PT defendem tal regime de partilha, acreditando que essa ação permitirá ao país conduzir os recursos captados pela união para os diversos setores industriais e no desenvolvimento do bem estar social, queremos lembrar que não se construirá uma economia diversificada – e tampouco – uma pretensa justiça social, com a falta de autonomia das unidades federadas, já que essa pretensa partilha irá beneficiar os grupos com maior poder político, e por extensão, econômico.
Por exemplo: Por que devemos seguir as orientações do PT ”paulista” se nossa realidade social é peculiar em relação ao resto do país? Ao contrário do resto do Brasil, temos uma vocação cosmopolita que foi construída desde os tempos coloniais, ou seja, sempre tivemos referência de uma sociedade aberta ao mundo, e, portanto, tendemos a avaliar conjunturas com mais clareza.
Isso talvez tenha atrofiado o nosso regionalismo, mas que não significa que não tenhamos o senso crítico de defender os interesses do povo fluminense (ou carioca como queiram), pois afinal de contas, a redução dos royalties do petróleo irá comprometer muitas expectativas de modernização do nosso estado.
Longe de ser um saudosista das centenárias oligarquias regionais (nem temos um histórico disso), acredito que seja preciso fazer um exercício sobre o papel da federação no Brasil, cujo momento exige avaliá-la de acordo com o contexto nacional nesse início do século XXI, onde a opinião pública embora mal informada se encontre bem atenta aos acontecimentos políticos no país.
Assim, a derrota dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo no Congresso Nacional pelo direito aos royalties do petróleo se deu pela falta de politização dessa demanda que impediu a mobilização popular, pois em momento algum ficou claro os prejuízos que as populações fluminenses e capixabas seriam submetidas. Através das redes sociais (fecebook, Orkut, e outros) é possível mobilizar milhares de cidadãos e não houve qualquer esclarecimento a respeito.
Considerando que os militantes do nosso partido poderiam ter cumprido essa função, estamos sentindo na carne o preço da falta de formação política e o abandono do trabalho de base. Muitos companheiros por certo aprovaram a partilha estabelecida pelos deputados em Brasília, pois acreditam candidamente que a riqueza deva ser distribuída paritariamente entre todas as unidades federadas - ou melhor, entre os brasileiros – o que é sem dúvida louvável, no entanto, preocupante em longo prazo.
Relembrando, tais companheiros não deverão perder de vista que em alguns estados não produtores, tal idéia de partilha partiu de grupos conhecidamente reacionários e oriundos das velhas oligarquias locais (vide o clã Sarney no Maranhão), que jamais tiveram o interesse de distribuir qualquer tipo de riqueza com a população. E isso é um bom motivo para debater sobre esse dito “federalismo”.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
OS CABOQUIM
Olha, leitor. Tô há uma data sem publicar nada, num é?
Mas, convenhamos, que este humilde escriba precisa pagar as suas contas e abstrair a torpeza deste mundo.
Então te convido. Se aproxime e ouça: "Os caboquim aprenderam a jogar".
Compartilho isso com você porque ouço vozes. Sim, ouço vozes.
Portanto, não leve em conta esta declaração:
_ O PT de São Gonça aprendeu a jogar.
Ganha tempo e força.
Os delírios stalinistas do Lindberg e a ingenuidade do Palmares transformaram o diretório do PT em São Gonçalo num quartel-general unificado contra forças invasoras. E deu aos vereadores Marlos e Miguel Moraes o fato político que precisavam para ganhar tempo.
Marlos e Miguel fizeram uma aliança. Eles são o PT hoje.
Os dois sabem que Konder é um balão de ensaio. Não será candidato a prefeito.
Um marqueteiro adversário, mesmo com argumentos rudimentares, detonaria uma candidatura Konder já na largada.
A. prefeita quer Eugênio, mas ele não quer.
Uma candidatura do PT em São Gonçalo é irresistível. Tanto com o Marlos quanto com o Miguel Moraes.
Os dois são preparados para esse desafio.
O PT através de Lula estendeu a mão a Aparecida. Aparecida estenderia a mão ao Partido dos Trabalhadores?
Uma candidatura do PT ganha a eleição em São Gonçalo..
Os caboquim do diretório daqui aprenderam a jogar. Anularam a "ameça estrangeira" no voto, no talento. Se fizeram protagonistas e confiaram o partido ao Marlos e ao Miguel.
O PT está unido, forte e perigoso.
A união entre Marlos e Miguel é alvissareira.
Os dois juntos se oxigenam e torna possível uma aliança programática com os partidos mais à esquerda da cidade.E, por que não, pleitear e conseguir a cabeça de chapa numa aliança com o PDT de Aparecida?
O PT vive um momento histórico na cidade.
Cabe ao Marlos e ao Miguel entenderem esse momento e conduzir o partido da estrela vermelha na estrada da transformação política de São Gonçalo.
A união entre Marlos e Miguel é alvissareira.
Os dois juntos se oxigenam e torna possível uma aliança programática com os partidos mais à esquerda da cidade.E, por que não, pleitear e conseguir a cabeça de chapa numa aliança com o PDT de Aparecida?
O PT vive um momento histórico na cidade.
Cabe ao Marlos e ao Miguel entenderem esse momento e conduzir o partido da estrela vermelha na estrada da transformação política de São Gonçalo.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
FASTER IN TIGHTROPE: JANELLE MONÁE
Ela será a primeira diva da era pós-industrial na música . A revolução virá da arte |
Completa. Inacreditavelmente completa aos 25 anos.
Steve Jobs deu à funcionalidade careta da tecnologia beleza e humanidade.
Janelle Monáe resgata o essencial na arte e assimila a tecnologia e suas ferramentas como extensões humanas do nosso corpo e de nossa imaginação.
Ela integra e simbiotiza o passado, o presente e o futuro.
Não há conflito porque tudo que existe é fundamentalmente humano.
Ela rivaliza com os irmãos Wachowisk, criadores de Matrix, que veem a tecnologia como o substrato da degradação da civilização ocidental capitalista. Eles, platônicos e idealistas, Monáe aristotélica, prática.
Acredito que Monáe seja a primeira grande artista a entrar no perigoso mundo do mainstream pela porta lateral aberta pela internet. Ela acaba de enterrar o modelo de indústria e ditadura cultural praticado pelas grandes corporações fonográficas do planeta.
Janelle, Janelle! É do Kansas, Texas! Terra do Bush! A caricatura anglo-saxã. Será por isso o Monáe? O que deve significar o acento ortográfico naquelas bandas?
Janelle Monáe. Obrigado.
Janelle humaniza aquilo que criamos |
Veja isso:
domingo, 9 de outubro de 2011
O JORNALISMO EM SG FAZ O SOL ENTRAR
Semana passada a Freguesia de São Gonçalo do Amarante esteve novamente no centro das atenções da mídia. E, mais uma vez, de forma negativa.
A demolição do que restava de um prédio histórico e caro à cultura brasileira no seu aspecto religioso, trouxe à cidade jornalistas dos veículos de comunicação da Côrte da Guanabara e de outras províncias da terra brasilis.
Nada por aqui foi muito esclarecido, tanto da parte dos umbandistas, como do proprietário do terreno histórico. Sinceramente não vi sinal de diálogo entre as partes até o ato derradeiro que fez desaparecer a casa onde nasceu a primeira e única religião 100% brasileira - a umbanda -, se podemos dizer assim.
Flagrante foi o total descaso e desinteresse do poder público em pelo menos adiar o ato vil contra a memória do povo brasileiro. "Lamento, mas nada pode ser feito", disse Aparecida Pilatos..., digo, Panisset, ao Jornal Extra, que passou a semana cobrindo a peça surreal de escancarado desleixo e desprezo pela cultura popular de origem africana.
Deste imbróglio, porém, surge o jornalismo que nesta freguesia não costuma ser praticado quando envolve o poder aqui constituído.
Posto leitor, matéria do Jornal Extra de hoje.
Aparecida Panisset: a prefeita que adora uma guerra santa
Por Antero Gomes
Aparecida Panisset se apresenta quase como uma personagem bíblica quando fala de si por meio de parábolas. “Um dia” é o advérbio que ela usa a cada começo de versículo sobre uma passagem de sua vida. “Um dia — narra a prefeita de São Gonçalo — eu estava em campanha para a prefeitura, em 2004, não tínhamos dinheiro sequer para alugar outdoor; eu me perguntava como é que iria fazer, e, aí, Deus falou assim para mim: Neemias 2,17”.
De tempos em tempos a imprensa aparece nesta freguesia. Foto: Roberto Moreyra |
— Desse trecho bíblico, que fala da reconstrução de Jerusalém, criei o slogan “Reconstruindo São Gonçalo”(...). Eu não tinha nada. Eu era uma gota no oceano — diz Panisset, pintando com nuances de martírio aquela campanha em que participava de “modestas” caminhadas com seus correligionários alimentados “a banana e água”.
Naquelas eleições, a evangélica Aparecida — mesmo nome da santa católica Nossa Senhora de Aparecida — fez uma revelação ao povo gonçalense. Ao derrotar, numa virada de última hora, a candidata Graça Matos, mostrou que seria uma das grandes forças políticas do município. Seus adversários a acusaram de ter espalhado jornais pela cidade com fotomontagens em que Graça, na época com forte adesão do eleitorado evangélico, aparecia vestida de “macumbeira”. A autoria nunca foi provada.
Casada com o poder
Para a solteiríssima Panisset, “um dia” equivale à expressão “era uma vez” dos contos de fadas. Deslumbrada com a própria história de ascensão política, usando um inseparável anel talhado com a inscrição em hebraico “eu sou do meu amado, meu amado é meu”, ela diz que se casou com a prefeitura. Subiu ao altar — por assim dizer — no dia em que tomou posse no Executivo. Na ocasião, vestia uma roupa cujo tecido fora comprado numa liquidação a R$ 8,90, o metro.
À frente do município desde 2005, ela não se mostrou tão econômica assim com as finanças da nova família. Comprou desde merenda escolar a cimento sem licitação ou com valores acima dos praticados no mercado. No Tribunal de $do Estado (TCE), acumula, só em relação a condenações entre 2010 e fevereiro de 2011, R$ 1,2 milhão em multas e débitos. Fora o patrimônio declarado de R$ 144 mil, se depender do salário integral como prefeita, levará nove anos para pagar a conta.
— Aparecida é uma das campeãs de irregularidades no estado — diz o conselheiro do TCE José Graciosa.
Nas ruas, longe dos números frios dos tribunais, Aparecida é beijada e abraçada em meio à enxurrada de asfalto novo e inaugurações na cidade. Boa parte dos recursos vem da União, a partir de 2007. Naquele ano, ela pulou do DEM para o PDT — partido da base do governo e do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Muitas vezes ajudada por Lupi, que agenda encontros com seus pares na Esplanada dos Ministérios, Panisset conseguiu subir sua carteira de valores liberados em convênios de R$ 1,7 milhão, em 2007, para R$ 30 milhões, este ano.
Numa quarta-feira de setembro, o EXTRA acompanhou Aparecida num desses encontros com o eleitorado gonçalense. Sua assessoria agendou uma visitinha a algumas das inúmeras ruas do bairro Trindade que estão sendo pavimentadas. Simpática, abraçou calorosamente o repórter. Amável além do necessário, retribuiu cumprimentos até a quem passava sem tê-la cumprimentado. Vestindo um tailleur de tweed, pisou no piche quente. Beijou criança. Abraçou velhinha...
Mas havia uma frágil harmonia em tudo aquilo. Algo fora do lugar, por trás do “casamento de aparências”. Além do barulho dos tratores em comunhão com o entusiasmo das pessoas. Além das faixas, estendidas entre os postes, nas quais “os moradores agradecem à prefeita Aparecida Panisset por mais esta obra”. Faixas confeccionadas com os mesmos tipos, tamanhos e cores de letras de outras dezenas espalhadas, em tese, por moradores de outros bairros.
Na Rua Recife, irrompe um morador. Ele agradece pelo asfalto, mas pergunta: “E o esgoto, prefeita, quando chega?”. É como se um vaso de rosas se quebrasse na sala de estar. Aparecida tenta varrer para debaixo do tapete: “Vou pedir para ligar na sua casa”. O morador quer saber quando. O repórter quer saber quando. Quando? Quando?
— Quem vai colocar o esgoto é o estado. Não vai precisar quebrar o asfalto. Vai correr sob a calçada. A Secretaria estadual de Ambiente já licitou a obra. Vai começar em breve — diz ela, desmentida depois pela secretaria, que informou não haver projeto nem licitação prontos, embora a região deva ser beneficiada num prazo de DOIS anos. Ops. Corta.
Aparecida responde a onze ações civis públicas propostas pelo Ministério Público. Uma delas chama a atenção por mostrar como o clã Panisset trata os “bens da família”. Diz respeito à área da Saúde, que teve, em sete anos, sucessivas crises e seis secretários. O atual é o irmão da prefeita, Márcio Panisset. Essa ação do MP conta a seguinte historinha:
Um dia...todos os veículos do setor de remoções da Secretaria de Saúde foram desviados para transportar pessoas, bebida e comida para uma festa de Márcio Panisset, num sítio em Itaboraí. Enquanto isso, durante aquele 15 de dezembro de 2009, o setor de remoções ficou fechado.
Aparecida diz estar tranquila sobre as denúncias. Dorme sem calmantes. Sorte dela. Se precisasse de um Diazepam, durante boa parte de agosto e setembro, e pedisse para um funcionário buscar no posto de saúde a um quilômetro do seu gabinete, ia ficar na mão. Estava em falta!! Precisar, ela não precisa, mas vai que “um dia”...
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
ALUÇÃ, OS AMIGOS E A HOMENAGEM
Necessário leitor. No dia 15 de outubro um dos maiores e ilustres artistas desta terra de São Gonçalo do Amarante será homenageado no Teatro Carequinha. Dezenas de artistas irão se apresentar em ode à memória e ao talento do músico e compositor Luiz Alberto dos Santos, consagrado aqui e alhures como Aluçã.
Esse campista chegou em São Gonçalo muito cedo e, como não poderia ser diferente, foi logo adotado pela cidade. Em retribuição ao amor e carinho dessa gente, Aluçã alçaria à adjetivo a palavra gonçalense, sinônimo de muito trabalho, talento e criatividade frente às dificuldades crônicas do cotidiano e de realização dos nossos sonhos.
A história de Aluçã é genuinamente de luta e um exemplo para todos.
Na cara e na coragem produziu e gravou de forma independente diversos LP´s e CD´s. A sua simplicidade e humildade, fruto de sua alma generosa e espírito altruísta, foram o amálgama que deu forma e sentido à classe artística em São Gonçalo. Vários músicos que hoje estão na ativa devem a Aluçã suas avante premiéres nos palcos do Brasil e do mundo.
O músico e ultra-visceral Aluçã foi obrigado, devido às circunstâncias e adversidades, a se embrenhar no mundo da produção e da indústria cultural. Foi pioneiro e, meio que sem querer, agregou outros artistas e agentes de cultura no alvorecer da consciência política e de atuação na área.
Pode-se dizer que - mesmo escassos - os equipamentos de cultura existentes em São Gonçalo são fruto da experiência e articulação de Aluçã junto aos artistas que pressionaram o governo no sentido de criar condições mais dignas de trabalho ao seu ofício. No DNA da Secretaria de Cultura e da Fundação de Artes de São Gonçalo está Aluçã.
Nunca reivindicou para si os holofotes das glórias da política. Aluçã era a própria luz, e a sua casa o palco. Ele foi responsável por transformar São Gonçalo em principal referência noturna depois do Rio de Janeiro nas décadas de 1980 e 1990. As casas na cidade onde se apresentava ficavam invariavelmente lotadas.
O seu sucesso e garra inspiraram uma geração inteira de artistas que viram nele as referências de amor e convicção de que precisavam para ter na arte a principal fonte de realização. Ou, simplesmente, coragem como artistas. Não é fácil ser de uma classe social onde muitas das vezes é proibido ser artista.
Aluçã é um monumento ao talento e à bravura do povo. A sua arte tinha a missão sagrada e penosa de adocicar a vida das pessoas. A grande saudade que sentimos de Aluçã é a certeza de que ficaremos menos felizes com a sua ausência. Mas, para que essa sensação de vazio seja amenizada, só mesmo a criação e a preservação de sua memória e de sua obra pelos amigos que cultivou ao longa da vida.
O tributo-homenagem a Aluçã, que será realizado no aconchegante teatro em Neves, tem essa missão: matar um pouco a saudade preservando a sua memória. E a maior representante desse esforço inadiável de amor, respeito e memória ao artista gonçalense é a cantora Claudia Sing, mentora do evento:
Todos ao Carequinha. A cidade, a arte e o Aluçã agradecem. E acesse a página criada no facebook pela preservação da memória e de divulgação do tributo-homenagem ao mestre Aluçã AQUI.
Esse campista chegou em São Gonçalo muito cedo e, como não poderia ser diferente, foi logo adotado pela cidade. Em retribuição ao amor e carinho dessa gente, Aluçã alçaria à adjetivo a palavra gonçalense, sinônimo de muito trabalho, talento e criatividade frente às dificuldades crônicas do cotidiano e de realização dos nossos sonhos.
A história de Aluçã é genuinamente de luta e um exemplo para todos.
Na cara e na coragem produziu e gravou de forma independente diversos LP´s e CD´s. A sua simplicidade e humildade, fruto de sua alma generosa e espírito altruísta, foram o amálgama que deu forma e sentido à classe artística em São Gonçalo. Vários músicos que hoje estão na ativa devem a Aluçã suas avante premiéres nos palcos do Brasil e do mundo.
O músico e ultra-visceral Aluçã foi obrigado, devido às circunstâncias e adversidades, a se embrenhar no mundo da produção e da indústria cultural. Foi pioneiro e, meio que sem querer, agregou outros artistas e agentes de cultura no alvorecer da consciência política e de atuação na área.
Pode-se dizer que - mesmo escassos - os equipamentos de cultura existentes em São Gonçalo são fruto da experiência e articulação de Aluçã junto aos artistas que pressionaram o governo no sentido de criar condições mais dignas de trabalho ao seu ofício. No DNA da Secretaria de Cultura e da Fundação de Artes de São Gonçalo está Aluçã.
Nunca reivindicou para si os holofotes das glórias da política. Aluçã era a própria luz, e a sua casa o palco. Ele foi responsável por transformar São Gonçalo em principal referência noturna depois do Rio de Janeiro nas décadas de 1980 e 1990. As casas na cidade onde se apresentava ficavam invariavelmente lotadas.
O seu sucesso e garra inspiraram uma geração inteira de artistas que viram nele as referências de amor e convicção de que precisavam para ter na arte a principal fonte de realização. Ou, simplesmente, coragem como artistas. Não é fácil ser de uma classe social onde muitas das vezes é proibido ser artista.
Aluçã é um monumento ao talento e à bravura do povo. A sua arte tinha a missão sagrada e penosa de adocicar a vida das pessoas. A grande saudade que sentimos de Aluçã é a certeza de que ficaremos menos felizes com a sua ausência. Mas, para que essa sensação de vazio seja amenizada, só mesmo a criação e a preservação de sua memória e de sua obra pelos amigos que cultivou ao longa da vida.
O tributo-homenagem a Aluçã, que será realizado no aconchegante teatro em Neves, tem essa missão: matar um pouco a saudade preservando a sua memória. E a maior representante desse esforço inadiável de amor, respeito e memória ao artista gonçalense é a cantora Claudia Sing, mentora do evento:
Todos ao Carequinha. A cidade, a arte e o Aluçã agradecem. E acesse a página criada no facebook pela preservação da memória e de divulgação do tributo-homenagem ao mestre Aluçã AQUI.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
MARLOS: SE INSISTIREM COM O PALMARES, NÃO DISPUTO REELEIÇÃO
Querido leitor que me acompanha. O festejado vereador Marlos Costa, dono da impressionante marca de 80 projetos de Lei apresentados, dezenas aprovados e outros que já são lei na cidade, partiu para o enfrentamento com o grupo que sustenta a candidatura Palmares dentro do PT.
O ilustre edil das terras de São Pedro de Alcântara mandou, hoje (30/9), um recado contundente para o Oscar Bessa, expoente do oba-oba Palmares: "Se o partido insistir com o Palmares, eu não disputo a reeleição no ano que vem. É um desrespeito com a cidade, com os gonçalenses, comigo e com o Miguel (Moraes, também vereador pelo PT) que trabalhamos todos os dias pelo enobrecimento desse partido e pela melhoria da qualidade de vida dessa cidade", disse um Marlos já quase irritado, mas que fez questão de frisar que não sai do PT de jeito nenhum.
Os vereadores Marlos e Miguel Moraes fizeram um pacto de auto-preservação dentro do Partido dos Trabalhadores que está praticamente sob intervenção branca do diretório carioca.
Também hoje, saiu em alguns jornais e blogs locais que já estaria certa a composição de chapa Konder/Miguel. "Não tem absolutamente nada decidido. Por enquanto a resolução do PT é pela candidatura própria. Eu não posso passar por cima do partido", disse Miguel, que, junto ao seu colega Marlos, deu expediente na Câmara nesta sexta-feira.
Tanto Marlos quanto Miguel acreditam que a única forma de um fortalecimento verdadeiro do partido em São Gonçalo passa pela valorização e protagonismo dos próprios quadros da cidade.
Acompanhe esta saga na página CONTEXTO
O ilustre edil das terras de São Pedro de Alcântara mandou, hoje (30/9), um recado contundente para o Oscar Bessa, expoente do oba-oba Palmares: "Se o partido insistir com o Palmares, eu não disputo a reeleição no ano que vem. É um desrespeito com a cidade, com os gonçalenses, comigo e com o Miguel (Moraes, também vereador pelo PT) que trabalhamos todos os dias pelo enobrecimento desse partido e pela melhoria da qualidade de vida dessa cidade", disse um Marlos já quase irritado, mas que fez questão de frisar que não sai do PT de jeito nenhum.
Os vereadores Marlos e Miguel Moraes fizeram um pacto de auto-preservação dentro do Partido dos Trabalhadores que está praticamente sob intervenção branca do diretório carioca.
Também hoje, saiu em alguns jornais e blogs locais que já estaria certa a composição de chapa Konder/Miguel. "Não tem absolutamente nada decidido. Por enquanto a resolução do PT é pela candidatura própria. Eu não posso passar por cima do partido", disse Miguel, que, junto ao seu colega Marlos, deu expediente na Câmara nesta sexta-feira.
Tanto Marlos quanto Miguel acreditam que a única forma de um fortalecimento verdadeiro do partido em São Gonçalo passa pela valorização e protagonismo dos próprios quadros da cidade.
Vice, eu? Eu quero ser prefeito... |
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terça-feira, 27 de setembro de 2011
ACIOLI: CRIME DE PATENTE
Perplexo leitor, saiu notícia hoje em vários veículos de comunicação da grande imprensa que nos deixa estarrecidos. Leia AQUI e AQUI.
Segundo investigação da polícia carioca, o mandante do crime mais inacreditável cometido contra a sociedade fluminense foi o tenente-coronel Claudio Luis de Oliveira, nada mais, nada menos que o ex-comandante do 7º Batalhão que abriga os valentes combatentes fardados nessa freguesia de São Gonçalo do Amarante.
Claudio Oliveira foi exonerado do comando do Batalhão da Maré e está preso no Batalhão de Choque onde aguardará os desdobramentos do processo que deve [ou não] ser aberto pela Justiça.
Dias atrás, o sr. coronel Mario Sergio Duarte correu frente às câmeras para isentar de culpa coletiva a instituição comandada pelo tenente-coronel Oliveira. Tudo não passava de um plano diabólico orquestrado apenas e isoladamente por três meliantes da gloriosa Polícia Militar.
Na minha época de Plinio Leite, tinha lá uma professora de português muito, mas muito chata, que dizia pra mim o seguinte: "Se você ler apenas o óbvio, serás sempre um analfabeto".
Deixo vocês com uma observação do coronel Milton Corrêa da Costa
A gravíssima acusação contra um oficial PM comandante
por Milton Corrêa da Costa
Em princípio a Constituição Brasileira consagra, dentro do estado democrático de direito, o postulado jurídico da presunção da inocência concedendo, a qualquer cidadão, independente de raça, cor, credo, cargo, status social e grau cultural o direito à ampla defesa e ao contraditório. Todos são inocentes até decisão condenatória definitiva. Isso é sabido.
No entanto, causa espécie e choca a sociedade fluminense, a recente decretação de prisão do ex-comandante do 7o Batalhão de Polícia Militar, unidade localizada na Região Metropolitana do Rio, no município de São Gonçalo.O Tenente Coronel Claudio Luis de Oliveira, exercendo atualmente o comando do 22o BPM, junto à Favela da Maré, uma das mais conflagradas áreas da guerra do tráfico, que foi apontado, por um dos três executores já presos (um cabo PM), em troca da delação premiada, como mandante do assassinato da Juíza Patrícia Acioli. Inacreditável.
Difícil e até mesmo constrangedor acreditar- as apurações irão confirmar ou não a gravíssima acusação- que quem tem a missão de comandar, servir, proteger, liderar e dar o exemplo, possa ter se associado e acumpliciado a subordinados hierárquicos para ordenar a prática de crime tão bárbaro e covarde (21 tiros à curta distância), que chocou a sociedade e colocou sob grave ameaça o Poder Judicário, o mais representativo entre os três poderes de um estado democrático.
Ressalte-se aqui o trabalho investigativo, de alta qualidade e eficácia, efetuado pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro na elucidação do crime. Nada ficamos a dever, em termos de inteligência e investigação, às melhores polícias do mundo, apesar da flagrante carência de estrutura e equipamentos de polícia científica em muitos estados da federação. Registre-se, também, por dever de justiça, que o oficial superior ora acusado possui, em sua folha de serviços, na área operacional, relevantes missões de combate ao banditismo e à criminalidade atípica do Rio.
No entanto, tudo isso será apagado se a gravíssima acusação for confirmada em juízo. Terá então esquecido o juramento perante a Bandeira Nacional -como tantos outros policiais- de servir e proteger a sociedade e não aviltá-la, quanto mais quem tem a nobre missão de comando. O covarde assassinato da juíza Patrícia Acioli tem que servir inclusive como divisor de águas no processo de depuração dos quadros da polícia, não só no Rio, mas em todo o páis.Não dá mais para conviver com quem veste farda e se associa ao crime, como no caso recente de corrupção e associação ao tráfico por integrantes de uma Unidade de Polícia Pacificadora no Rio (UPP), um projeto de policiamento de proximidade tão promissor e essencial à sociedade, que não pode ser ser contaminado.
O fortalecimento e melhor estruturação das corregedorias de polícia é medida por demais urgente e necessária. O perigo da contaminação policial pelo crime e pela fraqueza moral preocupa cada dia mais a toda sociedade, a destinatária dos serviços policiais. Precisamos de uma polícia cidadã, democrática e sobretudo confiável. Não há mais como fugir de tal premissa. É hora e vez da faxina policial.
Leia também: MAR DE LAMA EM BATALHÃO DE SÃO GONÇALO
Atualizado em 29/09
Segundo investigação da polícia carioca, o mandante do crime mais inacreditável cometido contra a sociedade fluminense foi o tenente-coronel Claudio Luis de Oliveira, nada mais, nada menos que o ex-comandante do 7º Batalhão que abriga os valentes combatentes fardados nessa freguesia de São Gonçalo do Amarante.
Claudio Oliveira foi exonerado do comando do Batalhão da Maré e está preso no Batalhão de Choque onde aguardará os desdobramentos do processo que deve [ou não] ser aberto pela Justiça.
Dias atrás, o sr. coronel Mario Sergio Duarte correu frente às câmeras para isentar de culpa coletiva a instituição comandada pelo tenente-coronel Oliveira. Tudo não passava de um plano diabólico orquestrado apenas e isoladamente por três meliantes da gloriosa Polícia Militar.
Na minha época de Plinio Leite, tinha lá uma professora de português muito, mas muito chata, que dizia pra mim o seguinte: "Se você ler apenas o óbvio, serás sempre um analfabeto".
Deixo vocês com uma observação do coronel Milton Corrêa da Costa
A gravíssima acusação contra um oficial PM comandante
por Milton Corrêa da Costa
Em princípio a Constituição Brasileira consagra, dentro do estado democrático de direito, o postulado jurídico da presunção da inocência concedendo, a qualquer cidadão, independente de raça, cor, credo, cargo, status social e grau cultural o direito à ampla defesa e ao contraditório. Todos são inocentes até decisão condenatória definitiva. Isso é sabido.
No entanto, causa espécie e choca a sociedade fluminense, a recente decretação de prisão do ex-comandante do 7o Batalhão de Polícia Militar, unidade localizada na Região Metropolitana do Rio, no município de São Gonçalo.O Tenente Coronel Claudio Luis de Oliveira, exercendo atualmente o comando do 22o BPM, junto à Favela da Maré, uma das mais conflagradas áreas da guerra do tráfico, que foi apontado, por um dos três executores já presos (um cabo PM), em troca da delação premiada, como mandante do assassinato da Juíza Patrícia Acioli. Inacreditável.
Difícil e até mesmo constrangedor acreditar- as apurações irão confirmar ou não a gravíssima acusação- que quem tem a missão de comandar, servir, proteger, liderar e dar o exemplo, possa ter se associado e acumpliciado a subordinados hierárquicos para ordenar a prática de crime tão bárbaro e covarde (21 tiros à curta distância), que chocou a sociedade e colocou sob grave ameaça o Poder Judicário, o mais representativo entre os três poderes de um estado democrático.
Ressalte-se aqui o trabalho investigativo, de alta qualidade e eficácia, efetuado pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro na elucidação do crime. Nada ficamos a dever, em termos de inteligência e investigação, às melhores polícias do mundo, apesar da flagrante carência de estrutura e equipamentos de polícia científica em muitos estados da federação. Registre-se, também, por dever de justiça, que o oficial superior ora acusado possui, em sua folha de serviços, na área operacional, relevantes missões de combate ao banditismo e à criminalidade atípica do Rio.
No entanto, tudo isso será apagado se a gravíssima acusação for confirmada em juízo. Terá então esquecido o juramento perante a Bandeira Nacional -como tantos outros policiais- de servir e proteger a sociedade e não aviltá-la, quanto mais quem tem a nobre missão de comando. O covarde assassinato da juíza Patrícia Acioli tem que servir inclusive como divisor de águas no processo de depuração dos quadros da polícia, não só no Rio, mas em todo o páis.Não dá mais para conviver com quem veste farda e se associa ao crime, como no caso recente de corrupção e associação ao tráfico por integrantes de uma Unidade de Polícia Pacificadora no Rio (UPP), um projeto de policiamento de proximidade tão promissor e essencial à sociedade, que não pode ser ser contaminado.
O fortalecimento e melhor estruturação das corregedorias de polícia é medida por demais urgente e necessária. O perigo da contaminação policial pelo crime e pela fraqueza moral preocupa cada dia mais a toda sociedade, a destinatária dos serviços policiais. Precisamos de uma polícia cidadã, democrática e sobretudo confiável. Não há mais como fugir de tal premissa. É hora e vez da faxina policial.
Leia também: MAR DE LAMA EM BATALHÃO DE SÃO GONÇALO
Atualizado em 29/09
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
O RODRIGO SANTOS ENTENDE PORQUE NÃO PEGO NINGUÉM DO ROCHA...
Leitor, leitor... Esse Bardo num é mole, não.
O Rodrigo Santos fez uma peça de paródia que merece esse post.
A inspiração foi esse texto AQUI.A paródia em questão está no comentário.
Segue.
Ele, Rodrigo Santos:
Pensei logo em uma paródia de "Óculos", dos Paralamas...
O Rodrigo Santos fez uma peça de paródia que merece esse post.
A inspiração foi esse texto AQUI.A paródia em questão está no comentário.
Segue.
Ele, Rodrigo Santos:
Pensei logo em uma paródia de "Óculos", dos Paralamas...
"As meninas do Colubandê não dão pra mim
(moro em Ne-ves!)
E volta e meia não consigo ir pro Arsenal
(moro em Ne-ves!)
Se faço Letras na Uerj está tudo bem
Mas fora da rota do ABC
eu não como ningue-ém...
Por que você não olha pra mim?
Será que é por que moro mal?
Por que o Rocha é longe pra mim?
Imagina então Largo da Ideia ou Arsena-al...
Por que não tem buzum para mim?
Metrô só existe na eleição...
Por que em São Gonçalo é assim?
A linha do ônibus é que pauta o coraçã-ão..."
HAHAHAHHAHA!
domingo, 25 de setembro de 2011
EGOÍSMOS E ALTRUÍSMOS: AS LIÇÕES DO HUMANISMO CRISTÃO E O ENGAJAMENTO DOS INTELECTUAIS
Leitor, tu és a minha preciosidade. Estou revigorado neste domingo cinzento após ter a orgasmática experiência de ler o Mauro Santayana via Conversa Afiada (vou assinar o JB Online só por causa do Mauro).
Neste post está a seiva da vida e do seguir adiante num mundo em que a trapaça e o cinismo seguiram a mesma sofisticação da ciência moderna e contemporânea.
Depois de assistir o [quase] triunfo do pós-modernismo e sofrer com a desesperança e impotência frente ao mundo de mesquinharia que se desenhava para os meus filhos, mesmo assim, continuei firme nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade tal como nos apresentaram os franceses naquela primavera do século XVIII, espírito materializado na Enciclopédia, obra revolucionária que deu à razão humana autonomia e uma outra - e definitiva - concepção de Justiça.
Bom, emocionado e, repito, revigorado, deixo vocês com o Santayana.
Em busca da razão perdida (2)
por Mauro Santayana
As grandes revoluções humanas não surgem espontaneamente. Elas, de certa forma, existem como possibilidade desde o início da História, mas são contidas pelas forças reacionárias. As idéias que as suscitam permanecem latentes, na obra de um ou outro pensador, seja nos ensaios, no teatro, nas narrativas épicas ou na poesia. Em alguns momentos, ganham força, mediante a discussão e o debate, e triunfam, mesmo que, algumas vezes, de forma efêmera.
As idéias, sem embargo de sua energia própria, dependem da ação. Os intelectuais, dizia, sem muita justiça, um dos precursores do Iluminismo, Erasmo de Rotterdam, são naturalmente medrosos. Isso só é válido para uma minoria, e de menor dimensão. A regra tem sido outra. Foram numerosos os homens de pensamento que tombaram em pleno combate, nas prisões ou nas terríveis condições da clandestinidade. Sem ir longe no passado, o século 20 foi exemplar nessa necessidade da inteligência em se fazer ação, como ocorreu na na memorável resistência contra os nazistas, os fascistas e os franquistas – e na luta pela autodeterminação dos povos contra o totalitarismo imperialista. A política é a práxis da razão, e, sem ela, o pensamento permanece encapsulado na teoria, ou, seja, na contemplação.
O grande motor do século 19, o do fulgor do Iluminismo, foi L’Enciclopédie, Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers. Tratou-se de uma empresa, que nasceu com o interesse comercial de editores franceses – chefiados pelo maior deles, na época, Le Breton – empenhados na tradução da Cyclopaedia, dicionário universal inglês de Ephraim Chambers. Le Breton convidou D’Alembert e Diderot para a tarefa. Ambos entenderam que não bastava a tradução de um dicionário que, circulando desde 1728, já se encontrava perempto, e se limitava a uma erudição de natureza clássica, distanciada das inquietações práticas de 1747. Se o dicionário de Chambers tratava das artes e das ciências, Diderot acrescentou, para a sua enciclopédia, os verbetes sobre os ofícios profissionais. Dedicou grande parte às ilustrações, que, sobretudo no caso dos ofícios, contribuíram para que a obra servisse como manual de instruções.
Perseguida pela Igreja, uma vez que era essencialmente materialista, e incluída no Índex; mal vista pela monarquia, por reivindicar as liberdades políticas, a Enciclopédia passou por inúmeras dificuldades e chegou a ser proibida. Diderot foi preso por algum tempo, D’Alembert desistiu de ser o co-editor, a partir do volume oitavo, e os últimos tomos foram impressos e distribuídos clandestinamente. O custo era altíssimo. Quando relembramos que a composição, tipo por tipo, era manual, e as chapas, armadas uma a uma, em operação demorada, podemos imaginar o dinheiro necessário apenas para o trabalho tipográfico. Mais de dois mil gráficos trabalharam durante os vinte e um anos de edição, transcorridos entre o primeiro e o último dos 28 volumes, 11 deles só de ilustrações.
A Enciclopédia foi empreendimento revolucionário, e disso Diderot tinha plena consciência. A publicação serviu para derrubar os pilares do poder feudal de uma nobreza ociosa e parasitária, que consumia a maior parte dos recursos obtidos com o trabalho dos franceses; serviu como fermento da Revolução Francesa e a derrocada da monarquia; combateu a Igreja, que, sócia privilegiada da opressão e monitora do pensamento, ameaçava os intelectuais com os dogmas e mantinha os néscios submissos, mediante a ameaça do inferno. Como as luzes vinham de várias fontes, Diderot escolheu para o subtítulo da obra a trilogia do inglês Francis Bacon, que assim resumia as operações da mente: Memória, Razão e Imaginação.
Diderot foi mais do que seu diretor intelectual. Coube-lhe buscar os subscritores – o que representava para cada um deles a aplicação de uma pequena fortuna – entre os ricos mais esclarecidos, os pioneiros da indústria e do comércio e alguns banqueiros, como o mais eminente financista de Paris, Jacques Necker, que viria a ser a figura chave na Queda da Bastilha. Durante muito tempo, os enciclopedistas foram acolhidos no salão de Madame Necker, onde as novas idéias eram livremente debatidas.
O autor de “A Religiosa” agiu, ao mesmo tempo, como pensador, militante político e ativo empreendedor. Usando recursos que hoje encontramos na internet, como a remissão dos assuntos a outros verbetes, a inclusão das fontes de informação e referências bibliográficas, o que hoje chamamos de hiperlink. O texto incitava à ampliação crítica da informação, com o fantástico resultado que a História registra. E a empreitada fascinou todos os que a ela se associaram. O caso mais notável desse empenho foi o de Louis de Jacourt, um intelectual muito rico e de grande saber, que se formara em teologia, em Genebra, ciências naturais em Cambridge e medicina, em Leiden, na Holanda. Jacourt, sozinho, redigiu um quarto de todos os verbetes da Enciclopédia, sem cobrar um centavo pelo seu trabalho. Ao contrário, contratou vários assessores, que o ajudaram na exaustiva pesquisa daqueles tempos, e lhes pagou com seu próprio dinheiro.
Mesmo quando sua distribuição teve que ser clandestina, a Enciclopédia era discutida em todos os salões. Suas idéias estimularam o aparecimento de novos pensadores, que se somaras à elite da razão daquele tempo, formada por homens muitos deles nobres, como foram como Montesquieu, Grimm e Holbach. Eles se somaram a livres pensadores, como Voltaire, D’Alembert, Condorcet, Daubeton, Rousseau, Turgot e Quesnay, e a mulheres como Mme. D’Epinay, Sophie Volland, Mme Necker – e a notável proteção financeira a Diderot, de Catarina, a imperatriz da Rússia, para abrir o caminho do século seguinte.
Em busca da razão perdida (3)
O Iluminismo conduziu o mundo, durante o século 19 e a maior parte do século 20. A oposição que sofreu, no início dos oitocentos, com o Romantismo, foi débil, e só se manifestou de forma mais forte nas artes, sobretudo na literatura. Hegel e Marx, nas idéias sociais, ou seja, políticas, são dois dos maiores frutos do século 18. Um se seguiu ao outro, e de seu pensamento surgiram os grandes movimentos revolucionários do século passado. Apesar disso, os resultados mais espetaculares das luzes parecem ter ocorrido na ciência e na tecnologia.
Neste post está a seiva da vida e do seguir adiante num mundo em que a trapaça e o cinismo seguiram a mesma sofisticação da ciência moderna e contemporânea.
Depois de assistir o [quase] triunfo do pós-modernismo e sofrer com a desesperança e impotência frente ao mundo de mesquinharia que se desenhava para os meus filhos, mesmo assim, continuei firme nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade tal como nos apresentaram os franceses naquela primavera do século XVIII, espírito materializado na Enciclopédia, obra revolucionária que deu à razão humana autonomia e uma outra - e definitiva - concepção de Justiça.
Bom, emocionado e, repito, revigorado, deixo vocês com o Santayana.
GUERNICA, PABLO PICASSO: Líbia, Palestina, Somália, periferias do Brasil... |
Em busca da razão perdida (2)
por Mauro Santayana
As grandes revoluções humanas não surgem espontaneamente. Elas, de certa forma, existem como possibilidade desde o início da História, mas são contidas pelas forças reacionárias. As idéias que as suscitam permanecem latentes, na obra de um ou outro pensador, seja nos ensaios, no teatro, nas narrativas épicas ou na poesia. Em alguns momentos, ganham força, mediante a discussão e o debate, e triunfam, mesmo que, algumas vezes, de forma efêmera.
As idéias, sem embargo de sua energia própria, dependem da ação. Os intelectuais, dizia, sem muita justiça, um dos precursores do Iluminismo, Erasmo de Rotterdam, são naturalmente medrosos. Isso só é válido para uma minoria, e de menor dimensão. A regra tem sido outra. Foram numerosos os homens de pensamento que tombaram em pleno combate, nas prisões ou nas terríveis condições da clandestinidade. Sem ir longe no passado, o século 20 foi exemplar nessa necessidade da inteligência em se fazer ação, como ocorreu na na memorável resistência contra os nazistas, os fascistas e os franquistas – e na luta pela autodeterminação dos povos contra o totalitarismo imperialista. A política é a práxis da razão, e, sem ela, o pensamento permanece encapsulado na teoria, ou, seja, na contemplação.
O grande motor do século 19, o do fulgor do Iluminismo, foi L’Enciclopédie, Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers. Tratou-se de uma empresa, que nasceu com o interesse comercial de editores franceses – chefiados pelo maior deles, na época, Le Breton – empenhados na tradução da Cyclopaedia, dicionário universal inglês de Ephraim Chambers. Le Breton convidou D’Alembert e Diderot para a tarefa. Ambos entenderam que não bastava a tradução de um dicionário que, circulando desde 1728, já se encontrava perempto, e se limitava a uma erudição de natureza clássica, distanciada das inquietações práticas de 1747. Se o dicionário de Chambers tratava das artes e das ciências, Diderot acrescentou, para a sua enciclopédia, os verbetes sobre os ofícios profissionais. Dedicou grande parte às ilustrações, que, sobretudo no caso dos ofícios, contribuíram para que a obra servisse como manual de instruções.
Perseguida pela Igreja, uma vez que era essencialmente materialista, e incluída no Índex; mal vista pela monarquia, por reivindicar as liberdades políticas, a Enciclopédia passou por inúmeras dificuldades e chegou a ser proibida. Diderot foi preso por algum tempo, D’Alembert desistiu de ser o co-editor, a partir do volume oitavo, e os últimos tomos foram impressos e distribuídos clandestinamente. O custo era altíssimo. Quando relembramos que a composição, tipo por tipo, era manual, e as chapas, armadas uma a uma, em operação demorada, podemos imaginar o dinheiro necessário apenas para o trabalho tipográfico. Mais de dois mil gráficos trabalharam durante os vinte e um anos de edição, transcorridos entre o primeiro e o último dos 28 volumes, 11 deles só de ilustrações.
A Enciclopédia foi empreendimento revolucionário, e disso Diderot tinha plena consciência. A publicação serviu para derrubar os pilares do poder feudal de uma nobreza ociosa e parasitária, que consumia a maior parte dos recursos obtidos com o trabalho dos franceses; serviu como fermento da Revolução Francesa e a derrocada da monarquia; combateu a Igreja, que, sócia privilegiada da opressão e monitora do pensamento, ameaçava os intelectuais com os dogmas e mantinha os néscios submissos, mediante a ameaça do inferno. Como as luzes vinham de várias fontes, Diderot escolheu para o subtítulo da obra a trilogia do inglês Francis Bacon, que assim resumia as operações da mente: Memória, Razão e Imaginação.
Diderot foi mais do que seu diretor intelectual. Coube-lhe buscar os subscritores – o que representava para cada um deles a aplicação de uma pequena fortuna – entre os ricos mais esclarecidos, os pioneiros da indústria e do comércio e alguns banqueiros, como o mais eminente financista de Paris, Jacques Necker, que viria a ser a figura chave na Queda da Bastilha. Durante muito tempo, os enciclopedistas foram acolhidos no salão de Madame Necker, onde as novas idéias eram livremente debatidas.
O autor de “A Religiosa” agiu, ao mesmo tempo, como pensador, militante político e ativo empreendedor. Usando recursos que hoje encontramos na internet, como a remissão dos assuntos a outros verbetes, a inclusão das fontes de informação e referências bibliográficas, o que hoje chamamos de hiperlink. O texto incitava à ampliação crítica da informação, com o fantástico resultado que a História registra. E a empreitada fascinou todos os que a ela se associaram. O caso mais notável desse empenho foi o de Louis de Jacourt, um intelectual muito rico e de grande saber, que se formara em teologia, em Genebra, ciências naturais em Cambridge e medicina, em Leiden, na Holanda. Jacourt, sozinho, redigiu um quarto de todos os verbetes da Enciclopédia, sem cobrar um centavo pelo seu trabalho. Ao contrário, contratou vários assessores, que o ajudaram na exaustiva pesquisa daqueles tempos, e lhes pagou com seu próprio dinheiro.
Mesmo quando sua distribuição teve que ser clandestina, a Enciclopédia era discutida em todos os salões. Suas idéias estimularam o aparecimento de novos pensadores, que se somaras à elite da razão daquele tempo, formada por homens muitos deles nobres, como foram como Montesquieu, Grimm e Holbach. Eles se somaram a livres pensadores, como Voltaire, D’Alembert, Condorcet, Daubeton, Rousseau, Turgot e Quesnay, e a mulheres como Mme. D’Epinay, Sophie Volland, Mme Necker – e a notável proteção financeira a Diderot, de Catarina, a imperatriz da Rússia, para abrir o caminho do século seguinte.
Em busca da razão perdida (3)
O Iluminismo conduziu o mundo, durante o século 19 e a maior parte do século 20. A oposição que sofreu, no início dos oitocentos, com o Romantismo, foi débil, e só se manifestou de forma mais forte nas artes, sobretudo na literatura. Hegel e Marx, nas idéias sociais, ou seja, políticas, são dois dos maiores frutos do século 18. Um se seguiu ao outro, e de seu pensamento surgiram os grandes movimentos revolucionários do século passado. Apesar disso, os resultados mais espetaculares das luzes parecem ter ocorrido na ciência e na tecnologia.
sábado, 24 de setembro de 2011
CINEMA: VOCÊ NÃO ESCOLHE, É ESCOLHIDO
Cinéfilo leitor. Posto agora um texto do grande amigo, escritor e professor Carlos Henrique (Caíca), publicado no Jornal Apologia em setembro de 2007.
Já que estamos às vésperas de ganhar novas salas de cinema na cidade no Shopping Boulevard, cabe aqui esta reflexão do amigo.
A arte de (des) servir
por Carlos Henrique
Hoje não acordei no meio de um sonho, por isso apenas pela manhã sentei e fiquei pensando, pensando... em como escrever um texto para o caderno de cultura de um jornal da cidade de São Gonçalo, mais precisamente um que fale de cinema. Porra, como falar de cinema numa cidade de mais de um milhão de habitantes que praticamente não possuí cinemas?
Interessante indagação, não acham? E é por ser assim tão interessante
que essa mesma questão deveria estar sendo discutida, de nada adianta escrever isso aqui e depois ninguém mais pensar sobre o caso. Por conta disso vamos refletir, olhar no espelho da consciência e deixar que se re-flita sobre os problemas culturais que assolam nossa pobre, suja e carente cidade. Pensei, assim que acordei, em sentar e produzir algo que falasse sobre o último bom filme que assisti (O Cheiro do Ralo, Brasil 2007, Heitor Dhalia), mas esse é um filme que tive que me deslocar até Niterói para assistir, dessa forma estaria sendo até malvado ao indicar às pessoas uma película com acesso mais restrito.
O que fazer então, digamme?! Levanto e preparo um café, retorno ao computador e com uma puta dor de dúvida decido por não falar sobre filmes, mas sim sobre a dificuldade que encontramos para assistir filmes em nossa terra sem palmeiras onde não cantam sabiás. Sabem aquela caixa grande e feia que fica às margens de nossa Praia das Pedrihas? É lá o único lugar em que podemos ir se quisermos ver um filme. Mas, quais os longas que se exibem nessa caixa de sonhos que apenas ilude os pobres (e bota pobres nisso!) dos consumidores gonçalenses? Outra boa pergunta, não acham?
Se um problema é ter acesso às películas, outro, também tão crítico, é a quais películas podemos ter acesso. No fantástico mundo do mercado capitalista escolher é um verbo que não se conjuga. Não escolhemos mais, tiraram esse direito de nós, somos escolhidos, é a mercadoria quem compra seu consumidor, o fetiche virou contra o feticheiro (pobre do Marx...). A relação de oferta e procura acabou, escorreu pelo ralo (que fede a bosta e lucro!). E agora José, Fabiano, Sinhá Vitória, Bentinho, Capitu, Iracema, pobres de nós personagens desse teatro do absurdo que é o mundo do lucro? Que atire a primeira pedra aquele que nunca quis ver um filme que a caixa de falsos sonhos não oferecia em suas salas! Vai lá, pode atirar!
O café esfriou, acendo um cigarro e fico olhando a fina fumaça azul que sobe, sobe, sobe fazendo danças no ar, no vazio, no espaço sem significados e significações do tempo, tentando (pobre de mim!) encontrar argumentos, respostas, perguntas que possam fazer com que você (é, você mesmo que me lê!) sinta agora a mesma indignação que eu, a mesma dor, o mesmo desamparo frente aos descaminhos que se abrem a nossa frente. Aí me pergunto pra que serve essa porra de cinema? Por que tenho que assistir filmes que querem que eu assista e não aqueles que quero? Cinema é arte? Beleza, então me diga pra que serve a arte se tenho fome, se não tenho trabalho, se não tenho hospitais, nem escolas, ruas asfaltadas etc?Pra nada.
A arte não serve pra nada, por isso mesmo ela é útil, necessária pra alimentar nossa fome de indagações, pra preencher nosso tempo ocioso (pelo direito ao ócio e à preguiça!!!), pra curar as dores que afligem nosso eu (é, esse eu aí que é você, que pensa e sente como qualquer um), pra educar nossa sensibilidade (e isso não é papo de veado, ser sensível é ser humano), pra construir os caminhos do nosso pensar/refletir (quanto mais sei menos me enganam, pense nisso quando for votar). Enfim, é por seu des-servir que a arte mais nos serve, afinal, pra que serve viver?
Já que estamos às vésperas de ganhar novas salas de cinema na cidade no Shopping Boulevard, cabe aqui esta reflexão do amigo.
A arte de (des) servir
por Carlos Henrique
Hoje não acordei no meio de um sonho, por isso apenas pela manhã sentei e fiquei pensando, pensando... em como escrever um texto para o caderno de cultura de um jornal da cidade de São Gonçalo, mais precisamente um que fale de cinema. Porra, como falar de cinema numa cidade de mais de um milhão de habitantes que praticamente não possuí cinemas?
Interessante indagação, não acham? E é por ser assim tão interessante
que essa mesma questão deveria estar sendo discutida, de nada adianta escrever isso aqui e depois ninguém mais pensar sobre o caso. Por conta disso vamos refletir, olhar no espelho da consciência e deixar que se re-flita sobre os problemas culturais que assolam nossa pobre, suja e carente cidade. Pensei, assim que acordei, em sentar e produzir algo que falasse sobre o último bom filme que assisti (O Cheiro do Ralo, Brasil 2007, Heitor Dhalia), mas esse é um filme que tive que me deslocar até Niterói para assistir, dessa forma estaria sendo até malvado ao indicar às pessoas uma película com acesso mais restrito.
O que fazer então, digamme?! Levanto e preparo um café, retorno ao computador e com uma puta dor de dúvida decido por não falar sobre filmes, mas sim sobre a dificuldade que encontramos para assistir filmes em nossa terra sem palmeiras onde não cantam sabiás. Sabem aquela caixa grande e feia que fica às margens de nossa Praia das Pedrihas? É lá o único lugar em que podemos ir se quisermos ver um filme. Mas, quais os longas que se exibem nessa caixa de sonhos que apenas ilude os pobres (e bota pobres nisso!) dos consumidores gonçalenses? Outra boa pergunta, não acham?
Se um problema é ter acesso às películas, outro, também tão crítico, é a quais películas podemos ter acesso. No fantástico mundo do mercado capitalista escolher é um verbo que não se conjuga. Não escolhemos mais, tiraram esse direito de nós, somos escolhidos, é a mercadoria quem compra seu consumidor, o fetiche virou contra o feticheiro (pobre do Marx...). A relação de oferta e procura acabou, escorreu pelo ralo (que fede a bosta e lucro!). E agora José, Fabiano, Sinhá Vitória, Bentinho, Capitu, Iracema, pobres de nós personagens desse teatro do absurdo que é o mundo do lucro? Que atire a primeira pedra aquele que nunca quis ver um filme que a caixa de falsos sonhos não oferecia em suas salas! Vai lá, pode atirar!
Você jamais verá esse diálogo do Heitor Dhalia nas telonas da Freguesia |
O café esfriou, acendo um cigarro e fico olhando a fina fumaça azul que sobe, sobe, sobe fazendo danças no ar, no vazio, no espaço sem significados e significações do tempo, tentando (pobre de mim!) encontrar argumentos, respostas, perguntas que possam fazer com que você (é, você mesmo que me lê!) sinta agora a mesma indignação que eu, a mesma dor, o mesmo desamparo frente aos descaminhos que se abrem a nossa frente. Aí me pergunto pra que serve essa porra de cinema? Por que tenho que assistir filmes que querem que eu assista e não aqueles que quero? Cinema é arte? Beleza, então me diga pra que serve a arte se tenho fome, se não tenho trabalho, se não tenho hospitais, nem escolas, ruas asfaltadas etc?Pra nada.
A arte não serve pra nada, por isso mesmo ela é útil, necessária pra alimentar nossa fome de indagações, pra preencher nosso tempo ocioso (pelo direito ao ócio e à preguiça!!!), pra curar as dores que afligem nosso eu (é, esse eu aí que é você, que pensa e sente como qualquer um), pra educar nossa sensibilidade (e isso não é papo de veado, ser sensível é ser humano), pra construir os caminhos do nosso pensar/refletir (quanto mais sei menos me enganam, pense nisso quando for votar). Enfim, é por seu des-servir que a arte mais nos serve, afinal, pra que serve viver?
PARA ONDE VAI SÃO GONÇALO?
Meu sofrido leitor, como dizia o imperador Julio Cesar às margens do Rio Rubicão, alea jacta est, ou, em bom português: a sorte está lançada.
Começamos a rodada de análises sobre o processo político e eleitoral da cidade.
Temos um quadro político em São Gonçalo já quase definido. Nele, despontam três grandes forças que já se acomodaram em seus respectivos raios de atuação: O grupo liderado pela prefeita Aparecida Panisset (PDT), pelo casal Ezequiel e Graça Matos (PMDB do P, Picciani) e pelo deputado federal Neilton Mulin (PR).
Essas três forças disputam o apoio do PT em São Gonçalo, o fiel da balança das eleições em 2012.
Mas, antes de mais nada, vamos ler um email que chegou até este humilde escriba de uma grande liderança do diretório do Partido dos Trabalhadores que obviamente não revelarei o nome:
Na Câmara, na verdade, existem duas grandes correntes: os eduardianos e os panissetianos. Na edição de O São Gonçalo de hoje, o texto deixa claro esta realidade. Alguns vereadores e suplentes estão migrando para o PMDB para desespero dos panissetianos que não querem um embate direto com o seu presidente, Eduardo Gordo, que avança nesse vácuo político deixado pela falta de assertiva dos governistas em definir claramente o sucessor de Aparecida. O sinal amarelo acendeu.
Com essas costuras políticas na Câmara, tudo indica que Aparecida sofrerá oposição violenta a partir de outubro.
E o PT? Bom, voltemos à missiva preocupada de nosso ilustre desconhecido petista. Segundo ele, o clima dentro do partido é de guerra. Atualmente a aliança do partido com o governo Panisset subiu ao telhado. Há duas semanas, numa reunião turbulenta, o diretório se decidiu por ter um representante próprio na disputa à prefeitura em 2012. Dentre os postulantes e pré-candidatos, dois vereadores do partido e o deputado carioca Gilberto Palmares, abençoado pelo senador Lindberg Farias e pelo diretório regional, que sacudiu as estruturas do partido local.
A entrada de Palmares no jogo representa uma "intervenção branca" do diretório carioca no diretório gonçalense e põe na mesa de negociação política local o grupo pró-Lindberg, que sonha eleger-se governador em 2014. As conversas tomam uma dimensão que transcende as fronteiras da cidade. Com isso, Lindberg subtrai do presidente do PT de São Gonçalo o protagonismo nas conversas e decisões junto ao PDT nas três esferas nacional, estadual e municipal. O partido rachou. Está profundamente dividido e aparentemente acéfalo.
O presidente do PT em São Gonçalo, Wanderlei Dias, em resposta à reunião no diretório liderada pelo senador Lindberg - em pessoa - em apoio a Palmares, reunião na qual, diga-se, que sequer foi convidado, reagiu e convocou os petistas num encontro extraordinário que tinha como pauta única derrubar a resolução pela candidatura própria e uma aliança imediata com o PDT. E, como lido acima, podemos deduzir que a chapa esquentou de vez mesmo.
Os vereadores Marlos e Miguel Moraes, antes em lados opostos, foram obrigados a fazer um pacto, embora temporário, de união no diretório. O primeiro, numa atitude intempestiva, talvez tomado pelo sentimento de frustração em ver seus esforços pela indicação à candidatura pelo partido irem por água abaixo, anunciou sua desistência no pleito. Porém, voltou atrás ao prever o desgaste que sua decisão provocaria com sua base eleitoral, formada principalmente pelos católicos - que vêem no jovem vereador uma chance concreta de retomada de hegemonia moral e religiosa na cidade - e pelos formadores de opinião da novíssima classe média gonçalense.
Já o vereador Miguel Moraes deixou de lado os ressentimentos cultivados pelo jovem companheiro de partido e formou com ele uma aliança política que tem, entre outras razões, a manutenção dos acordos políticos com a prefeita Aparecida Panisset em defesa de uma coalizão partidária forte capaz de encarar as frentes lideradas pelo PMDB do P e pelo PR. Após a decisão do partido pela candidatura própria à sombra do deputado Palmares, Miguel foi enfático: “Este resultado na minha opinião não deveria acontecer neste momento. Ainda há um processo de discussão se o PT deve fazer aliança com outros partidos na cidade. Estamos nos isolando” (O São Gonçalo, 12/9). Um dia depois, 25 petistas foram exonerados das secretarias do PT dentro do governo Aparecida.
A conjuntura política não favorece mesmo os dois vereadores petistas. Sérgio Cabral, que tem especial simpatia pelo vereador Marlos, não mexerá uma palha a seu favor. É que São Gonçalo foi "dada" como prêmio de consolação ao candidato ao Senado derrotado Jorge Picciani, que pediu ao governador que não se intrometesse em suas articulações na cidade ao lado dos Matos. Por outro lado, tem o próprio Lindberg, que busca hegemonia partidária no leste fluminense e não vê nem em Marlos e nem em Miguel interlocutores de confiança dentro do partido por serem muito próximos a Cabral.
Sendo assim, São Gonçalo virou uma espécie de zona neutra na política fluminense. E os grandes personagens destas eleições serão Eduardo Gordo (Picciani), a própria Aparecida e Garotinho, que merecerá uma análise posterior.
Muita água vai rolar por debaixo da ponte...
Começamos a rodada de análises sobre o processo político e eleitoral da cidade.
Temos um quadro político em São Gonçalo já quase definido. Nele, despontam três grandes forças que já se acomodaram em seus respectivos raios de atuação: O grupo liderado pela prefeita Aparecida Panisset (PDT), pelo casal Ezequiel e Graça Matos (PMDB do P, Picciani) e pelo deputado federal Neilton Mulin (PR).
Essas três forças disputam o apoio do PT em São Gonçalo, o fiel da balança das eleições em 2012.
Mas, antes de mais nada, vamos ler um email que chegou até este humilde escriba de uma grande liderança do diretório do Partido dos Trabalhadores que obviamente não revelarei o nome:
"A situação está atingindo níveis preocupantes. O clima é beligerante, de guerra.
A reunião extraordinária do diretório municipal ontem (21/09) foi um campo de batalha.
E continuará sendo assim, necessário para combater a postura autoritária, déspota, antidemocrática do presidente municipal.
Só para ter uma idéia do aconteceu, a chapa do presidente encaminhou a substituição do Domício, vice-presidente do diretório, eleito há dois meses atrás. E também da companheira Simone.
Óbvio que isso gerou reação, levando outra chapa a também pedir a substituição de quatro membros.
E o presidente ainda se achava no direito de aceitar os documentos que quisesse, ou seja, aqueles que lhe interessavam. E também aos dois vereadores. Uma aliança interessantíssima, no melhor estilo frankenstein.
Depois de 3 horas, das 20 às 23 horas, a reunião foi suspensa, sem nenhuma alteração.
A tentativa de aprovar a aliança com o candidato do governo municipal não avançou, apesar de todos os artifícios utilizados.
Continuamos com a resolução de candidatura própria.
Mas eles (grifo meu) não desistirão.
A única conclusão da reunião de ontem é: a guerra continua. Mas se vocês pensam que isto é tudo, não.
A grande revelação da noite foi a concepção do presidente sobre a juventude. Que ela precisa levar muita porrada para "aprender". Além de tentar ofender o companheiro Carlos Furtado, secretário de juventude eleito no congresso municipal, chamando-o de "sujeito".
O que o presidente não consegue entender, que é melhor ser sujeito do que objeto.
Até o dia 09 de outubro, sem perder o foco, porque 'no balanço das horas tudo pode mudar'."Aparecida sabe que tem uma maioria ilusória na Câmara. Pelo menos três dos vereadores de seu próprio partido fazem oposição surda ao seu governo. Dentre estes, o vereador Dilson Drummond, que se ressente de ter sido preterido como candidato à sucessão de Aparecida. Recentemente, Drummond posou ao lado da frente política do PMDB tendo como companheiros mais dois personagens importantes: Eduardo Gordo, presidente da Câmara, e o deputado José Luis Nanci, que não descarta migrar para um partido da base governista ou mesmo para o PMDB caso seja o escolhido como cabeça de chapa da frente recém-formada na residência dos Matos.
Na Câmara, na verdade, existem duas grandes correntes: os eduardianos e os panissetianos. Na edição de O São Gonçalo de hoje, o texto deixa claro esta realidade. Alguns vereadores e suplentes estão migrando para o PMDB para desespero dos panissetianos que não querem um embate direto com o seu presidente, Eduardo Gordo, que avança nesse vácuo político deixado pela falta de assertiva dos governistas em definir claramente o sucessor de Aparecida. O sinal amarelo acendeu.
Com essas costuras políticas na Câmara, tudo indica que Aparecida sofrerá oposição violenta a partir de outubro.
E o PT? Bom, voltemos à missiva preocupada de nosso ilustre desconhecido petista. Segundo ele, o clima dentro do partido é de guerra. Atualmente a aliança do partido com o governo Panisset subiu ao telhado. Há duas semanas, numa reunião turbulenta, o diretório se decidiu por ter um representante próprio na disputa à prefeitura em 2012. Dentre os postulantes e pré-candidatos, dois vereadores do partido e o deputado carioca Gilberto Palmares, abençoado pelo senador Lindberg Farias e pelo diretório regional, que sacudiu as estruturas do partido local.
A entrada de Palmares no jogo representa uma "intervenção branca" do diretório carioca no diretório gonçalense e põe na mesa de negociação política local o grupo pró-Lindberg, que sonha eleger-se governador em 2014. As conversas tomam uma dimensão que transcende as fronteiras da cidade. Com isso, Lindberg subtrai do presidente do PT de São Gonçalo o protagonismo nas conversas e decisões junto ao PDT nas três esferas nacional, estadual e municipal. O partido rachou. Está profundamente dividido e aparentemente acéfalo.
O presidente do PT em São Gonçalo, Wanderlei Dias, em resposta à reunião no diretório liderada pelo senador Lindberg - em pessoa - em apoio a Palmares, reunião na qual, diga-se, que sequer foi convidado, reagiu e convocou os petistas num encontro extraordinário que tinha como pauta única derrubar a resolução pela candidatura própria e uma aliança imediata com o PDT. E, como lido acima, podemos deduzir que a chapa esquentou de vez mesmo.
Os vereadores Marlos e Miguel Moraes, antes em lados opostos, foram obrigados a fazer um pacto, embora temporário, de união no diretório. O primeiro, numa atitude intempestiva, talvez tomado pelo sentimento de frustração em ver seus esforços pela indicação à candidatura pelo partido irem por água abaixo, anunciou sua desistência no pleito. Porém, voltou atrás ao prever o desgaste que sua decisão provocaria com sua base eleitoral, formada principalmente pelos católicos - que vêem no jovem vereador uma chance concreta de retomada de hegemonia moral e religiosa na cidade - e pelos formadores de opinião da novíssima classe média gonçalense.
Já o vereador Miguel Moraes deixou de lado os ressentimentos cultivados pelo jovem companheiro de partido e formou com ele uma aliança política que tem, entre outras razões, a manutenção dos acordos políticos com a prefeita Aparecida Panisset em defesa de uma coalizão partidária forte capaz de encarar as frentes lideradas pelo PMDB do P e pelo PR. Após a decisão do partido pela candidatura própria à sombra do deputado Palmares, Miguel foi enfático: “Este resultado na minha opinião não deveria acontecer neste momento. Ainda há um processo de discussão se o PT deve fazer aliança com outros partidos na cidade. Estamos nos isolando” (O São Gonçalo, 12/9). Um dia depois, 25 petistas foram exonerados das secretarias do PT dentro do governo Aparecida.
A conjuntura política não favorece mesmo os dois vereadores petistas. Sérgio Cabral, que tem especial simpatia pelo vereador Marlos, não mexerá uma palha a seu favor. É que São Gonçalo foi "dada" como prêmio de consolação ao candidato ao Senado derrotado Jorge Picciani, que pediu ao governador que não se intrometesse em suas articulações na cidade ao lado dos Matos. Por outro lado, tem o próprio Lindberg, que busca hegemonia partidária no leste fluminense e não vê nem em Marlos e nem em Miguel interlocutores de confiança dentro do partido por serem muito próximos a Cabral.
Sendo assim, São Gonçalo virou uma espécie de zona neutra na política fluminense. E os grandes personagens destas eleições serão Eduardo Gordo (Picciani), a própria Aparecida e Garotinho, que merecerá uma análise posterior.
Muita água vai rolar por debaixo da ponte...
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
NÃO PEGO NINGUÉM DO ROCHA
Extasiado leitor. Depois de um dia de intensos festejos e júbilo por morarmos nesta Freguesia, apresento a vocês uma modesta reflexão sobre São Gonçalo.
Esta peça reflexiva que deve ter deixado em polvorosa a administração citadina foi publicada no jornal O Guarda de 22 de setembro.
Boa Leitura.
Não namoro ninguém do Rocha
O trepidante ônibus da Linha 10 Circular. |
Os problemas de São Gonçalo carregam em seu código genético as próprias soluções. Pode soar piegas ou até mesmo demagógico tal afirmação, meu caro leitor, mas acredito que no decorrer deste texto sairás convencido de que sou apenas mais um dentre tantos que cerram fileiras para o bem desta que é a nossa terra.
Pra começar, digo meio de supetão, se me permite, que a freguesia de São Gonçalo do Amarante carece de integração espacial. Não somos uma cidade integrada no sentido clássico que tem no ponto zero, o centro, a sua principal referência cultural e econômica. Ao Sul corremos a Niterói e ao Norte batemos perna rumo a Alcântara.
Como sou abusado, pego agora uma coisa cara ao catolicismo para fazer-me entender: historicamente essa cidade do santo boêmio sempre foi para nós o purgatório, o transitório. “Oxalá ficar rico e dar no pé!” Eis o projeto de vida do gonçalense. Negligência daqui, desleixo de lá, nos transformamos numa quase impossibilidade. Quase...
São Gonçalo é tão viável que sobrevive até à indiferença dos seus. Precisamos integrá-la e abandonar a concepção viária-espacial que sempre privilegiou Niterói. Não precisamos de Niterói. Eles que sempre precisaram da gente e não têm a menor gratidão por isso.
Pôxa, eu que sou do Porto Velho, descobri que tem uma porção de gatinhas ali no Rocha, Colubandê, Coelho... A possibilidade de eu casar com uma delas é ínfima. Também sei que tem uma penca de lojas de atacado que me dá uma economia dos diabos em artigos de escritório e papelaria. Hospital Geral? Esqueça! Melhor ir para o Souza Aguiar no Rio.
O capital não sobrevive à desintegração. É muito mais fácil, rápido e confortável eu gastar o meu dindim no Bay Market ou Plaza que no Shopping São Gonçalo que está a 3 Km de minha casa pela BR 101.
Um grande amigo, professor e geógrafo Mauricio Mendes vivia a me alertar: “Seguimos os nossos acidentes geográficos. Somos passagem, não hospedagem”. Claro, concordo. Mas se não fosse uma decisão política e econômica de integração Copacabana até hoje seria uma praia selvagem.
Por conta dos tais acidentes, que na verdade são os “maciços” longitudinais que cortam nossas terras nos sentidos norte-sul formando extensos corredores, a cidade é fragmentada. E isso gerou um bocado de desdobramentos nas áreas social, política, cultural e econômica.
Essa desintegração espacial e o pouco caso da administração pública, por exemplo, quase nos subtraem as regiões de Ipiíba e Monjolos (Alcântara) do nosso convívio nos anos de 1990. Mas sabiamente a população disse não à emancipação dos distritos que formariam um novo município. Depois de perder Itaipú no início do século XX para Niterói, não sei se o santo protetor dos músicos iria aguentar...
Esse capitalismo roda-presa em São Gonçalo mantém certas coisas inacreditáveis. Não entendo o domínio que beira o senhorio da empresa Galo Branco naquela região do Rocha e do Galo Branco. O empresário da construção civil olha aquela área (sub-habitada) e se pergunta: Eu vou vender apartamento num lugar onde não tem transporte com facilidade? O mais 171 dos corretores não consegue vender.
Respeito, é claro, a função honrosa do proprietário da empresa citada em ser um empreendedor numa área tão complicada que é o transporte público. Como empresário vencedor em seu ramo, ele deve entender e apoiar o que falo. Porém, deve concordar se houver planejamento, critério, visão de futuro do poder público para ousar usando-se, no nosso caso, da criatividade e principalmente responsabilidade e boa vontade.
A prefeita está de parabéns por tudo de bom que tem feito. A feiura de São Gonça que tanto trazia-me desesperança deu lugar a mais bela de todas as coisas: a beleza do movimento, do fazer para o que é feio se tornar belo.
Mas queremos e precisamos ir além. De um projeto de cidade que rime desenvolvimento com oportunidades para todos. São Gonçalo é uma das poucas cidades do Brasil que se fez do povo. Não lembro o último “doutor” (Charles não conta) prefeito desta cidade. É por isso que quando me perguntam como é Sâo Gonçalo eu respondo que é o que há de melhor do povo brasileiro.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
MARLOS: A VERDADE ESTA LÁ FORA
Bem amigos desta brava trincheira do conhecimento. Estou de volta após editar o glorioso jornal O Guarda da não menos gloriosa Guarda Municipal da Freguesia de São Gonçalo do Amarante.
Em verdade vos digo, leitor: o vereador Marlos está a pleno vapor em sua campanha pela reeleição. E o seu melhor mote de conquista eleitoral é a pré-candidatura a prefeito.
Como bom auditor do Tribunal de Contas que é, o ilustre edil fez as contas e reconsiderou sua estratégia de ação passiva frente aos acontecimentos que culminaram numa esquisita candidatura Palmares pelo PT gonçalense.
"A verdade está lá fora", como diria o locutor de Arquivo X.
No mais, esperemos os desdobramentos desta história que está ainda em suas primeiras linhas.
Em verdade vos digo, leitor: o vereador Marlos está a pleno vapor em sua campanha pela reeleição. E o seu melhor mote de conquista eleitoral é a pré-candidatura a prefeito.
Como bom auditor do Tribunal de Contas que é, o ilustre edil fez as contas e reconsiderou sua estratégia de ação passiva frente aos acontecimentos que culminaram numa esquisita candidatura Palmares pelo PT gonçalense.
"A verdade está lá fora", como diria o locutor de Arquivo X.
No mais, esperemos os desdobramentos desta história que está ainda em suas primeiras linhas.
Os agentes Mulder e Scully acompanham de perto a política gonçalense |
domingo, 11 de setembro de 2011
OS AMERICANOS ADORAM O 11 DE SETEMBRO
Posto agora um texto que fala do já cabalístico 11 de setembro. Hoje seremos bombardeados por milhares de "reportagens" sobre o "dia mais triste da história".
Amigo leitor, tem gente que acha que o homem não foi a lua. Eu me acho no direito de acreditar que foram os lunáticos da direita americana que inventaram os tais ataques às Torres Gêmeas em Nova Yorque.
Louco, eu? Isso tem lastro na história meu caro. É só pegar o exemplo do couraçado Maine afundado pelos próprios americanos em 1898 para criarem um pretexto de guerra contra a Espanha que tinha Cuba como colônia.
Bom, cada um com o seu 11 de setembro. O meu é esse aí escrito pelo grande Marco Aurélio Weissheimer, na Carta Maior
A matemática macabra do 11 de setembro
A resposta dos EUA ao ataque contra o World Trade Center engendrou duas novas guerras e uma contabilidade macabra. Para vingar as mais de 2.900 vítimas do ataque, algumas centenas de milhares de pessoas foram mortas. Para cada vítima do 11 de setembro, algumas dezenas (na estatística mais conservadora) ou centenas de pessoas perderam suas vidas. Mas essa história não se resume a mortes. A invasão do Iraque rendeu bilhões de dólares a empresas norte-americanas. Essa matemática macabra aparece também no 11 de setembro de 1973. O golpe de Pinochet provocou 40 mil vítimas e gordos lucros para os amigos do ditador e para ele próprio: US$ 27 milhões, só em contas secretas.
O mundo se tornou um lugar mais seguro, dez anos depois dos atentados de 11 de setembro e da “guerra ao terror” promovida pelos Estados Unidos para se vingar do ataque? A resposta de Washington ao ataque contra o World Trade Center e o Pentágono engendrou duas novas guerras – no Iraque e no Afeganistão – e uma contabilidade macabra. Para vingar as mais de 2.900 vítimas do ataque, mais de 900 mil pessoas já teriam perdido suas vidas até hoje.
Os números são do site Unknown News, que fornece uma estatística detalhada do número de mortos nas guerras nos dois países, distinguindo vítimas civis de militares. A organização Iraq Body Count, que usa uma metodologia diferente, tem uma estatística mais conservadora em relação ao Iraque: 111.937 civis mortos somente no Iraque.
Seja como for, a matemática da vingança é assustadora: para cada vítima do 11 de setembro, algumas dezenas (na estatística mais conservadora) ou centenas de pessoas perderam suas vidas. Em qualquer um dos casos, a reação aos atentados supera de longe a prática adotada pelo exército nazista nos territórios ocupados durante a Segunda Guerra Mundial: executar dez civis para cada soldado alemão morto.
Na madrugada do dia 2 de maio, quando anunciou oficialmente que Osama Bin Laden tinha sido morto, no Paquistão, por um comando especial dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama afirmou que a justiça tinha sido feita. O conceito de justiça aplicado aqui torna a Lei do Talião um instrumento conservadora. As palavras do presidente Obama foram as seguintes:
“Foi feita justiça. Nesta noite, tenho condições de dizer aos americanos e ao mundo que os Estados Unidos conduziram uma operação que matou Osama Bin Laden, o líder da Al Qaeda e terrorista responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças.”
Amigo leitor, tem gente que acha que o homem não foi a lua. Eu me acho no direito de acreditar que foram os lunáticos da direita americana que inventaram os tais ataques às Torres Gêmeas em Nova Yorque.
Louco, eu? Isso tem lastro na história meu caro. É só pegar o exemplo do couraçado Maine afundado pelos próprios americanos em 1898 para criarem um pretexto de guerra contra a Espanha que tinha Cuba como colônia.
Bom, cada um com o seu 11 de setembro. O meu é esse aí escrito pelo grande Marco Aurélio Weissheimer, na Carta Maior
A matemática macabra do 11 de setembro
A resposta dos EUA ao ataque contra o World Trade Center engendrou duas novas guerras e uma contabilidade macabra. Para vingar as mais de 2.900 vítimas do ataque, algumas centenas de milhares de pessoas foram mortas. Para cada vítima do 11 de setembro, algumas dezenas (na estatística mais conservadora) ou centenas de pessoas perderam suas vidas. Mas essa história não se resume a mortes. A invasão do Iraque rendeu bilhões de dólares a empresas norte-americanas. Essa matemática macabra aparece também no 11 de setembro de 1973. O golpe de Pinochet provocou 40 mil vítimas e gordos lucros para os amigos do ditador e para ele próprio: US$ 27 milhões, só em contas secretas.
O mundo se tornou um lugar mais seguro, dez anos depois dos atentados de 11 de setembro e da “guerra ao terror” promovida pelos Estados Unidos para se vingar do ataque? A resposta de Washington ao ataque contra o World Trade Center e o Pentágono engendrou duas novas guerras – no Iraque e no Afeganistão – e uma contabilidade macabra. Para vingar as mais de 2.900 vítimas do ataque, mais de 900 mil pessoas já teriam perdido suas vidas até hoje.
Os números são do site Unknown News, que fornece uma estatística detalhada do número de mortos nas guerras nos dois países, distinguindo vítimas civis de militares. A organização Iraq Body Count, que usa uma metodologia diferente, tem uma estatística mais conservadora em relação ao Iraque: 111.937 civis mortos somente no Iraque.
Seja como for, a matemática da vingança é assustadora: para cada vítima do 11 de setembro, algumas dezenas (na estatística mais conservadora) ou centenas de pessoas perderam suas vidas. Em qualquer um dos casos, a reação aos atentados supera de longe a prática adotada pelo exército nazista nos territórios ocupados durante a Segunda Guerra Mundial: executar dez civis para cada soldado alemão morto.
Na madrugada do dia 2 de maio, quando anunciou oficialmente que Osama Bin Laden tinha sido morto, no Paquistão, por um comando especial dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama afirmou que a justiça tinha sido feita. O conceito de justiça aplicado aqui torna a Lei do Talião um instrumento conservadora. As palavras do presidente Obama foram as seguintes:
“Foi feita justiça. Nesta noite, tenho condições de dizer aos americanos e ao mundo que os Estados Unidos conduziram uma operação que matou Osama Bin Laden, o líder da Al Qaeda e terrorista responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças.”
sábado, 10 de setembro de 2011
EU E MARLOS
Soube de uma notícia na quinta que me deixou, atento leitor, deveras triste. O vereador Marlos Costa, do Partido dos Trabalhadores, jogou a toalha e desistiu de sua pré-candidatura à vaga que a professora Maria Aparecida deixará em aberto no ano do Nosso Senhor de Dois Mil e Treze.
As articulações palacianas para barrar uma candidatura dos caboquim de São Gonçalo foram poderosas, e visam, principalmente, a peleja eleitoral em 2014 ao governo do estado, a disputa ao Senado Federal e o controle político das terras do Visconde.
E os principais comandantes desta verdadeira estratégia de guerra são o senador Lindberg Farias e a prefeita Aparecida Panisset. Lindberg disputará o governo do estado e Aparecida o Senado. Para tanto, é fundamental que a dupla garanta o controle político do leste fluminense e da baixada como contraponto ao domínio do PMDB na capital e de Garotinho no interior.
Usando-se da velha máxima "dividir para conquistar" inventa-se uma candidatura fantoche à prefeitura de São Gonçalo que não tem a menor simpatia da militância petista na cidade. Tudo leva a crer que o diretório municipal do partido, diante desta imposição do diretório regional, caia nos braços de Aparecida e do seu pupilo Adolpho Konder numa coligação. Essa é, inclusive, a diretiva do secretário Luis Paiva, uma espécie de Golbery do Governo Aparecida.
E o Marlos nessa história toda?
Bom, eu fico particularmente chateado. Trabalhei com o Marlos pouco mais de um ano tendo como principal orientação sua candidatura à prefeitura. O que nos levava adiante era a convicção de que a nossa geração está pronta para alçar a cidade a uma posição relevante para o estado e o Brasil. Com criatividade e conhecimento de causa.
Essa movimentação para barrar o Marlos o transforma em vencedor, não em derrotado. Jamais capitulou diante dos desafios, com estudo e dedicação. Avante companheiro!
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
GILBERTO PALMARES NÃO CONHECE A CURVA DO S
Sabe, leitor, não tenho a menor vontade e necessidade de sair de São Gonçalo. Sendo assim, acompanho com a atenção o que acontece na cidade. Eu quero imensamente o seu bem. Entendo que a cidade precisa de mim que a amo, que a conheço, para poder contribuir para o seu desenvolvimento e a consequente melhoria de minha qualidade de vida.
Pois ouvi, estupefato, de alguns amigos que o Gilberto Palmares quer porque quer se candidatar a prefeito de São Gonçalo. Hum... Os mesmos interlocutores afirmaram que ele tem o apoio do senador Lindberg Farias. Hum... E que a executiva nacional do PT apoia o seu pleito.... Hum...
Um dos correligionários do deputado Palmares se aproxima e solfeja a cantilena baba-ovo de quem tem alguma matrícula comissionada do Estado. Vi também que o colega empolgado fazia-me perceber o Nextel sôfrego, rezando para alguém pelo menos do 5º escalão do poder apitasse e atestasse o ridículo daquele ser patético.
Deixei o idiota falar e me fazer de standim nessa tragi-comédia.
_ Ele conhece a Curva do S? - perguntei.
_ O quê??? reage incrédulo.
_ Curva do S!? - insisti.
_ O que esse cara tá falando?? - retruca para os seus pares.
Fiz crer ao sujeito que o meu respeito e voto pertencem àquele que conhece a Curva do S, que conhece e vive essa cidade. São Gonçalo é minha cidade e não admito que ninguém que não conheça a Curva do S venha para cá botar banca de prefeito.
Tenho dito!
Pois ouvi, estupefato, de alguns amigos que o Gilberto Palmares quer porque quer se candidatar a prefeito de São Gonçalo. Hum... Os mesmos interlocutores afirmaram que ele tem o apoio do senador Lindberg Farias. Hum... E que a executiva nacional do PT apoia o seu pleito.... Hum...
Um dos correligionários do deputado Palmares se aproxima e solfeja a cantilena baba-ovo de quem tem alguma matrícula comissionada do Estado. Vi também que o colega empolgado fazia-me perceber o Nextel sôfrego, rezando para alguém pelo menos do 5º escalão do poder apitasse e atestasse o ridículo daquele ser patético.
Deixei o idiota falar e me fazer de standim nessa tragi-comédia.
_ Ele conhece a Curva do S? - perguntei.
_ O quê??? reage incrédulo.
_ Curva do S!? - insisti.
_ O que esse cara tá falando?? - retruca para os seus pares.
Fiz crer ao sujeito que o meu respeito e voto pertencem àquele que conhece a Curva do S, que conhece e vive essa cidade. São Gonçalo é minha cidade e não admito que ninguém que não conheça a Curva do S venha para cá botar banca de prefeito.
Tenho dito!
O ANDARILHO MULATO PELA FREGUESIA DE GONÇA
Hoje estava eu numa situação involuntária esperando a chuva passar. Aproveitei para pedir um bojudinha da Antarctica, bater papo e ver o jogo do C.R. Vasco da Gama que passeou em São Januário contra o Ceará decidindo o certame por três tentos a um.
Nessa, saquei da mochila alguns jornais antigos que são o meu portfólio. Lá estava o Apologia, edição 15 (curiosidade: feito na casa do André Correia em 2007), com uma crônica do Lima Barreto sobre São Gonçalo escrita em 1908. Pensei: vou republicar o texto para o valoroso leitor deste blog.
Ah, como eu queria que o secretário de cultura de São Gonçalo conhecesse Lima Barreto...
Diário Íntimo. 10 de fevereiro de 1908
por Lima Barreto
Fui ontem a São Gonçalo. É um município limítrofe ao de Niterói. Fui à casa do Uzeda. Uzeda é um segundo oficial da Secretaria da Guerra, casado com uma professora pública do lugar.
Embarquei às oito e meia no Largo do Paço; fazia uma manhã quente e feia, ensombrada de nuvens. Encontrei o Pinho, um meu antigo colega da Escola Politécnica. Vinha de exercícios práticos. Soberbamente insuportável. Indagando da produção do município, não me soube informar com simplicidade. Atribuiu a falta da lavoura à indolência do povo. Tive vontade de perguntar se ele, engenheiro, tendo estudado a química, física e história natural, dava um exemplo salutar, cultivando o sítio onde morava. Calei-me, e foi dizendo bobagens. Fez uma crítica severa às tarifas do Tramway Rural Fluminense. É isto uma pequena estrada de ferro, com carros abertos ao jeito de bondes, que liga as Neves ao município de São Gonçalo. E uma coisa tosca, necessariamente exigindo para a sua manutenção uma série de medidas empíricas, que a prática dita; o idiota do Pinho quer que ela se guie pelos princípios tarifários que regem os fretes das grandes vias-férreas. Disse-me coisas proveitosas, que, por exemplo — o esforço da tração era o mesmo na descida que na subida. É profundo.
As Neves não tiveram, para os meus olhos, nada de notável. Têm o aspecto comum dos nossos postos afastados e edificados. Casas baixas, pintadas de azul, de oca; janelas quadradas; espessas escadas de tijolos e pedras, que dão acesso a portas baixas; fisionomias indolentes de homens pelas portas das vendas; mulheres: negras, brancas e mulatas — tristes, de longos olhares, em que há desejos de volúpias e sonhos de festas, de bailes, fantásticos, de envolvedoras agitações de todo o corpo, capazes de as fazerem esquecer e quebrar a monotonia daquela vida pobre e triste que levam, tão parecida ainda com a senzala, em que o chicote disciplinador de outrora ficou transformado na dureza, na pressão, na dificuldade do pão nosso de cada dia.
Tomei o tramway. Fui vendo o caminho. A linha é construída sobre a velha estrada de rodagem. Em breve, deixamos toda a atmosfera urbana, para ver a rural. Há casas novas, os chalets, mas há também as velhas casas de colunas heterodoxas e varanda de parapeito, a lembrar a escravatura e o sistema da antiga lavoura. Corre o caminho por entre colinas, há pouca mata, laranjeiras muitas, algumas mangueiras.
Eu, olhando aquelas casas e aqueles caminhos, lembrei-me da minha vida, dos meus avós escravos e, não sei como, lembrei-me de algumas frases ouvidas no meu âmbito familiar, que me davam vagas notícias das origens da minha avó materna, Geraldina. Era de São Gonçalo, de Cubandê, onde eram lavradores os Pereiras de Carvalho, de quem era ela cria.
Lembrando-me disso, eu olhei as árvores da estrada com mais simpatia. Eram muito novas; nenhuma delas teria visto minha avó passar, caminho da corte, quando os seus senhores vieram estabelecer-se na cidade. Isso devia ter sido por 1840, ou antes, e nenhuma delas tinha a venerável idade de setenta anos. Entretanto, eu não pude deixar de procurar nos traços de um molequinho que me cortou o caminho, algumas vagas semelhanças com os meus. Quem sabe se eu não tinha parentes, quem sabe se não havia gente do meu sangue naqueles párias que passavam cheios de melancolia, passivos e indiferentes, como fragmentos de uma poderosa nau que as grandes forças da natureza desfizeram e cujos pedaços vão pelo oceano afora, sem consciência do seu destino e de sua força interior.
Entretanto, embora enchesse-me de tristeza o seu estado, eu não pude deixar de lembrar-me, sem algum orgulho, que o meu sangue, parente do seu, depois de volta de três quartos de século, voltava àquelas paragens radiante de mocidade, saturado de noções superiores, sonhando grandes destinos, para ser recebido em casa de pessoas que, se não foram senhores dele, durante algum tempo, tinha-o sido de outrem da mesma origem que o meu.
Eu vi também pelo caminho uma grande casa solarenga, em meio de um grande terreno, murado com um forte muro de pedra e cal. Estava em abandono, grandes panos do muro caídos e as aberturas fechadas com frágeis cercas de bambus. Eu me lembrei que a grande família de cuja escravatura saíra minha avó, tinha se extinguido, e que deles, diretamente, pelos laços de sangue e de adoção, só restavam um punhado de mulatos, muitos, trinta ou mais, de várias condições, e eu era o que mais prometia e o que mais ambições tinha.
Ela fora mais caipora do que aquele muro sólido, porque extinguira-se, caíra de todo e não deixara da sua linha direta nenhum rastro.
Cheguei à casa do Uzeda.
Antes vi a vila. Há uma grande rua principal, com uma imensa matriz a cavaleiro dela, e toscas casas que a arruam. O trem passa embaixo e, junto ao paço municipal, é macadamizada. A câmara municipal é um caixão ignóbil. Não sei porque nós não sabemos fazer esses edifícios com o gosto que os arquitetos da Idade Média faziam os dos seus burgos. Que infâmia é a que vi! Entretanto, é moderna, tem menos de vinte anos. A capela tem o acabamento das torres em pirâmide; é sem gosto e soturna; não há uma casa com sentimento, e a gente tem o que ver, apenas nas das colunas, em que a escravidão pôs seus sofrimentos e as suas recordações.
A mulher do Uzeda é rapariga anêmica, dessas nossas que a mocidade sabe dar um brilho singular com a sua fragilidade, mas que a maternidade e o tempo empanam e estiolam de modo lastimável. É morena, de curtos cabelos. Rosto em V, bom, para um rapaz inteligente, e que nela, com seus hábitos de paciência que o professorado dá, empresta uma singular fisionomia de freira, que o olho direito mais estreito faz quebrar com certa canalhice.
Nessa, saquei da mochila alguns jornais antigos que são o meu portfólio. Lá estava o Apologia, edição 15 (curiosidade: feito na casa do André Correia em 2007), com uma crônica do Lima Barreto sobre São Gonçalo escrita em 1908. Pensei: vou republicar o texto para o valoroso leitor deste blog.
Ah, como eu queria que o secretário de cultura de São Gonçalo conhecesse Lima Barreto...
Diário Íntimo. 10 de fevereiro de 1908
por Lima Barreto
Fui ontem a São Gonçalo. É um município limítrofe ao de Niterói. Fui à casa do Uzeda. Uzeda é um segundo oficial da Secretaria da Guerra, casado com uma professora pública do lugar.
Embarquei às oito e meia no Largo do Paço; fazia uma manhã quente e feia, ensombrada de nuvens. Encontrei o Pinho, um meu antigo colega da Escola Politécnica. Vinha de exercícios práticos. Soberbamente insuportável. Indagando da produção do município, não me soube informar com simplicidade. Atribuiu a falta da lavoura à indolência do povo. Tive vontade de perguntar se ele, engenheiro, tendo estudado a química, física e história natural, dava um exemplo salutar, cultivando o sítio onde morava. Calei-me, e foi dizendo bobagens. Fez uma crítica severa às tarifas do Tramway Rural Fluminense. É isto uma pequena estrada de ferro, com carros abertos ao jeito de bondes, que liga as Neves ao município de São Gonçalo. E uma coisa tosca, necessariamente exigindo para a sua manutenção uma série de medidas empíricas, que a prática dita; o idiota do Pinho quer que ela se guie pelos princípios tarifários que regem os fretes das grandes vias-férreas. Disse-me coisas proveitosas, que, por exemplo — o esforço da tração era o mesmo na descida que na subida. É profundo.
As Neves não tiveram, para os meus olhos, nada de notável. Têm o aspecto comum dos nossos postos afastados e edificados. Casas baixas, pintadas de azul, de oca; janelas quadradas; espessas escadas de tijolos e pedras, que dão acesso a portas baixas; fisionomias indolentes de homens pelas portas das vendas; mulheres: negras, brancas e mulatas — tristes, de longos olhares, em que há desejos de volúpias e sonhos de festas, de bailes, fantásticos, de envolvedoras agitações de todo o corpo, capazes de as fazerem esquecer e quebrar a monotonia daquela vida pobre e triste que levam, tão parecida ainda com a senzala, em que o chicote disciplinador de outrora ficou transformado na dureza, na pressão, na dificuldade do pão nosso de cada dia.
Um lugar de mui pouca graça |
Tomei o tramway. Fui vendo o caminho. A linha é construída sobre a velha estrada de rodagem. Em breve, deixamos toda a atmosfera urbana, para ver a rural. Há casas novas, os chalets, mas há também as velhas casas de colunas heterodoxas e varanda de parapeito, a lembrar a escravatura e o sistema da antiga lavoura. Corre o caminho por entre colinas, há pouca mata, laranjeiras muitas, algumas mangueiras.
Eu, olhando aquelas casas e aqueles caminhos, lembrei-me da minha vida, dos meus avós escravos e, não sei como, lembrei-me de algumas frases ouvidas no meu âmbito familiar, que me davam vagas notícias das origens da minha avó materna, Geraldina. Era de São Gonçalo, de Cubandê, onde eram lavradores os Pereiras de Carvalho, de quem era ela cria.
Lembrando-me disso, eu olhei as árvores da estrada com mais simpatia. Eram muito novas; nenhuma delas teria visto minha avó passar, caminho da corte, quando os seus senhores vieram estabelecer-se na cidade. Isso devia ter sido por 1840, ou antes, e nenhuma delas tinha a venerável idade de setenta anos. Entretanto, eu não pude deixar de procurar nos traços de um molequinho que me cortou o caminho, algumas vagas semelhanças com os meus. Quem sabe se eu não tinha parentes, quem sabe se não havia gente do meu sangue naqueles párias que passavam cheios de melancolia, passivos e indiferentes, como fragmentos de uma poderosa nau que as grandes forças da natureza desfizeram e cujos pedaços vão pelo oceano afora, sem consciência do seu destino e de sua força interior.
Entretanto, embora enchesse-me de tristeza o seu estado, eu não pude deixar de lembrar-me, sem algum orgulho, que o meu sangue, parente do seu, depois de volta de três quartos de século, voltava àquelas paragens radiante de mocidade, saturado de noções superiores, sonhando grandes destinos, para ser recebido em casa de pessoas que, se não foram senhores dele, durante algum tempo, tinha-o sido de outrem da mesma origem que o meu.
Eu vi também pelo caminho uma grande casa solarenga, em meio de um grande terreno, murado com um forte muro de pedra e cal. Estava em abandono, grandes panos do muro caídos e as aberturas fechadas com frágeis cercas de bambus. Eu me lembrei que a grande família de cuja escravatura saíra minha avó, tinha se extinguido, e que deles, diretamente, pelos laços de sangue e de adoção, só restavam um punhado de mulatos, muitos, trinta ou mais, de várias condições, e eu era o que mais prometia e o que mais ambições tinha.
Ela fora mais caipora do que aquele muro sólido, porque extinguira-se, caíra de todo e não deixara da sua linha direta nenhum rastro.
Cheguei à casa do Uzeda.
Antes vi a vila. Há uma grande rua principal, com uma imensa matriz a cavaleiro dela, e toscas casas que a arruam. O trem passa embaixo e, junto ao paço municipal, é macadamizada. A câmara municipal é um caixão ignóbil. Não sei porque nós não sabemos fazer esses edifícios com o gosto que os arquitetos da Idade Média faziam os dos seus burgos. Que infâmia é a que vi! Entretanto, é moderna, tem menos de vinte anos. A capela tem o acabamento das torres em pirâmide; é sem gosto e soturna; não há uma casa com sentimento, e a gente tem o que ver, apenas nas das colunas, em que a escravidão pôs seus sofrimentos e as suas recordações.
A mulher do Uzeda é rapariga anêmica, dessas nossas que a mocidade sabe dar um brilho singular com a sua fragilidade, mas que a maternidade e o tempo empanam e estiolam de modo lastimável. É morena, de curtos cabelos. Rosto em V, bom, para um rapaz inteligente, e que nela, com seus hábitos de paciência que o professorado dá, empresta uma singular fisionomia de freira, que o olho direito mais estreito faz quebrar com certa canalhice.
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