sábado, 24 de setembro de 2011

PARA ONDE VAI SÃO GONÇALO?

Meu sofrido leitor, como dizia o imperador Julio Cesar às margens do Rio Rubicão, alea jacta est, ou, em bom português: a sorte está lançada.

Começamos a rodada de análises sobre o processo político e eleitoral da cidade.



Temos um quadro político em São Gonçalo já quase definido. Nele, despontam três grandes forças que já se acomodaram em seus respectivos raios de atuação: O grupo liderado pela prefeita Aparecida Panisset (PDT), pelo casal Ezequiel e Graça Matos (PMDB do P, Picciani) e pelo deputado federal Neilton Mulin (PR).

Essas três forças disputam o apoio do PT em São Gonçalo, o fiel da balança das eleições em 2012.

Mas, antes de mais nada, vamos ler um email que chegou até este humilde escriba de uma grande liderança do diretório do Partido dos Trabalhadores que obviamente não revelarei o nome:


"A situação está atingindo níveis preocupantes. O clima é beligerante, de guerra. 
A reunião extraordinária do diretório municipal ontem (21/09) foi um campo de batalha. 
E continuará sendo assim, necessário para combater a postura autoritária, déspota, antidemocrática do presidente municipal.  
Só para ter uma idéia do aconteceu, a chapa do presidente encaminhou a substituição do Domício, vice-presidente do diretório, eleito há dois meses atrás. E também da companheira Simone.  
Óbvio que isso gerou reação, levando outra chapa a também pedir a substituição de quatro membros.  
E o presidente ainda se achava no direito de aceitar os documentos que quisesse, ou seja, aqueles que lhe interessavam. E também aos dois vereadores. Uma aliança interessantíssima, no melhor estilo frankenstein.  
Depois de 3 horas, das 20 às 23 horas, a reunião foi suspensa, sem nenhuma alteração.  
A tentativa de aprovar a aliança com o candidato do governo municipal não avançou, apesar de todos os artifícios utilizados.  
Continuamos com a resolução de candidatura própria.  
Mas eles (grifo meu) não desistirão.  
A única conclusão da reunião de ontem é: a guerra continua. Mas se vocês pensam que isto é tudo, não.  
A grande revelação da noite foi a concepção do presidente sobre a juventude. Que ela precisa levar muita porrada para "aprender". Além de tentar ofender o companheiro Carlos Furtado, secretário de juventude eleito no congresso municipal, chamando-o de "sujeito".  
O que o presidente não consegue entender, que é melhor ser sujeito do que objeto.  
Até o dia 09 de outubro, sem perder o foco, porque 'no balanço das horas tudo pode mudar'."
Aparecida sabe que tem uma maioria ilusória na Câmara. Pelo menos três dos vereadores de seu próprio partido fazem oposição surda ao seu governo. Dentre estes, o vereador Dilson Drummond, que se ressente de ter sido preterido como candidato à sucessão de Aparecida. Recentemente, Drummond posou ao lado da frente política do PMDB tendo como companheiros mais dois personagens importantes: Eduardo Gordo, presidente da Câmara, e o deputado José Luis Nanci, que não descarta migrar para um partido da base governista ou mesmo para o PMDB caso seja o escolhido como cabeça de chapa da frente recém-formada na residência dos Matos.

Na Câmara, na verdade, existem duas grandes correntes: os eduardianos e os panissetianos. Na edição de O São Gonçalo de hoje, o texto deixa claro esta realidade. Alguns vereadores e suplentes estão migrando para o PMDB para desespero dos panissetianos que não querem um embate direto com o seu presidente, Eduardo Gordo, que avança nesse vácuo político deixado pela falta de assertiva dos governistas em definir claramente o sucessor de Aparecida. O sinal amarelo acendeu.

Com essas costuras políticas na Câmara, tudo indica que Aparecida sofrerá oposição violenta a partir de outubro.

E o PT? Bom, voltemos à missiva preocupada de nosso ilustre desconhecido petista. Segundo ele, o clima dentro do partido é de guerra. Atualmente a aliança do partido com o governo Panisset subiu ao telhado. Há duas semanas, numa reunião turbulenta, o diretório se decidiu por ter um representante próprio na disputa à prefeitura em 2012. Dentre os postulantes e pré-candidatos, dois vereadores do partido e o deputado carioca Gilberto Palmares, abençoado pelo senador Lindberg Farias e pelo diretório regional, que sacudiu as estruturas do partido local.

A entrada de Palmares no jogo representa uma "intervenção branca" do diretório carioca no diretório gonçalense e põe na mesa de negociação política local o grupo pró-Lindberg, que sonha eleger-se governador em 2014. As conversas tomam uma dimensão que transcende as fronteiras da cidade. Com isso, Lindberg subtrai do presidente do PT de São Gonçalo o protagonismo nas conversas e decisões junto ao PDT nas três esferas nacional, estadual e municipal. O partido rachou. Está profundamente dividido e aparentemente acéfalo.

O presidente do PT em São Gonçalo, Wanderlei Dias, em resposta à reunião no diretório liderada pelo senador Lindberg - em pessoa - em apoio a Palmares, reunião na qual, diga-se, que sequer foi convidado, reagiu e convocou os petistas num encontro extraordinário que tinha como pauta única derrubar a resolução pela candidatura própria e uma aliança imediata com o PDT. E, como lido acima, podemos deduzir que a chapa esquentou de vez mesmo.

Os vereadores Marlos e Miguel Moraes, antes em lados opostos, foram obrigados a fazer um pacto, embora temporário, de união no diretório. O primeiro, numa atitude intempestiva, talvez tomado pelo sentimento de frustração em ver seus esforços pela indicação à candidatura pelo partido irem por água abaixo, anunciou sua desistência no pleito. Porém, voltou atrás ao prever o desgaste que sua decisão provocaria com sua base eleitoral, formada principalmente pelos católicos - que vêem no jovem vereador uma chance concreta de retomada de hegemonia moral e religiosa na cidade - e pelos formadores de opinião da novíssima classe média gonçalense.

Já o vereador Miguel Moraes deixou de lado os ressentimentos cultivados pelo jovem companheiro de partido e formou com ele uma aliança política que tem, entre outras razões, a manutenção dos acordos políticos com a prefeita Aparecida Panisset em defesa de uma coalizão partidária forte capaz de encarar as frentes lideradas pelo PMDB do P e pelo PR. Após a decisão do partido pela candidatura própria à sombra do deputado Palmares, Miguel foi enfático: “Este resultado na minha opinião não deveria acontecer neste momento. Ainda há um processo de discussão se o PT deve fazer aliança com outros partidos na cidade. Estamos nos isolando” (O São Gonçalo, 12/9). Um dia depois, 25 petistas foram exonerados das secretarias do PT dentro do governo Aparecida.

A conjuntura política não favorece mesmo os dois vereadores petistas. Sérgio Cabral, que tem especial simpatia pelo vereador Marlos, não mexerá uma palha a seu favor. É que São Gonçalo foi "dada" como prêmio de consolação ao candidato ao Senado derrotado Jorge Picciani, que pediu ao governador que não se intrometesse em suas articulações na cidade ao lado dos Matos. Por outro lado, tem o próprio Lindberg, que busca hegemonia partidária no leste fluminense e não vê nem em Marlos e nem em Miguel interlocutores de confiança dentro do partido por serem muito próximos a Cabral.

Sendo assim, São Gonçalo virou uma espécie de zona neutra na política fluminense. E os grandes personagens destas eleições serão Eduardo Gordo (Picciani), a própria Aparecida e Garotinho, que merecerá uma análise posterior.

Muita água vai rolar por debaixo da ponte...

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