sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A PROFESSORA E EU

Caríssimo leitor. Tenho comigo algumas maledicências que roço ao ouvido desde que nossa honorável prefeita falou à radio de ondas curtas pertencente ao maior conglomerado de comunicação do país.

Há pouco disse, abaixo, numa dessas peças caboquianas deste escriba, que ouço vozes.

Sim. VOZES. Essa coisa de doido.

Dessa vez não. Era bem real a mesa de madeira e a cerveja cara. Ali, eu [se vê] e essa praga de gente que só faz pergunta óbvia pra resposta difícil.

Deves saber: pergunta de criança. A pior das perguntas.

_ Aparecida é uma anta - esbraveja já sem paciência o amigo.

O amigo em questão se referia ao palavrório do Canázio na Globo AM. Eu nada disse.

Antes veio à cabeça a professora.

Maria Aparecida Panisset foi minha professora.

Não vejo a prefeita. Vejo a minha professora Maria Aparecida. Assim como o giz que a irritava marcava o seu nome na lousa com a história que o Estado, através da escola, nos obrigava a conhecer.

Nos odiávamos mutuamente. É, ela e eu.

[Claro, esqueci! (...): Colégio Paraíso. 1987. 5ª Série]

A professora Maria Aparecida não tinha muita paciência comigo. Invariavelmente era expulso da classe por ela. Isso era uma espécie de provação-limite; a exposição pedagógica à vergonha e à culpa. Punição máxima que, hoje tenho certeza, se aproxima a uma espécie de sadismo dos inocentes.

A professora de História Maria Aparecida não era intelectual. Não. Se trouxesse consigo tal dote ali, nos anos 80, fumaria maconha, ouviria roquenrol e seria de esquerda.

Mesmo hoje, olhando para trás, e sabendo de sua trajetória que é simplesmente espetacular, não consigo saber exatamente quem era aquela professora. O que vem à mente é uma mulher com forte e inabalável convicção moral e de valores. Carregava já um messianismo retórico latente.

Sei porque fui sua tábua rasa. Eu sou testemunha da sua força - quase obsessão -, perseverança, empenho e convicção em me fazer odiar história.

Como disse acima, nos odiávamos mutuamente.

Lembro da pergunta do amigo que originou essas divagações. Delas não fujo, e faça saber agora: Aparecida Panisset é uma melodia que é a própria transcendência de São Gonçalo.  O seu moralismo e messianismo professoral eram a luva que este caldo de cultura borbulhante do pentecostalismo nativo precisava.

Graça "macumbeira" num jornal apócrifo foi o último ato da ciência política levada ao extremo no Brasil. Foi a bolinha de papel que deu certo. Isso é apenas um parêntese, leitor...

Aparecida Panisset é a figura política mais importante de toda a história da cidade ao lado de Joaquim Lavoura. E digo: ela quer o estado. Essa entrevista é sua avant première na política fluminense com a armadura de um governo bem avaliado. Governo de uma cidade que é fundamental em qualquer eleição.

A entrevista? Bola para a professora a meia-altura que pegou de voleio e fez de placa. Talvez escorregara na própria ignorância quando deu a entender que a linha 02 Circular era concessão estadual não tendo a prefeitura nada a ver com o martírio dos usuários dos ônibus da empresa Estrela.

Parece a mim Canázio bobão. Ficou feio à beça ao Canázio paladino do povo gonçalense escancarar ignorância e preconceito, frases prontas achando que meu amigo não vá perceber o circo:

_ Helcio, esses caras tão pouco se lixando pra gente. Que merda é essa? Essa cidade não tem plano de desenvolvimento urbano próprio. Parece que São Gonçalo existe por osmose...

É...., continua.

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