segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O SAPATO DE JULIETTE - LAUDA VII

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Porém, num final de tarde, ouve-se uma confissão inesperada e translúcida daquele homem: - Eu fui o sujeito que mandou sua mãe e seu pai pro outro mundo - disse, inacreditavelmente calmo, enrolando o seu cigarro de palha. Os dois estavam de pé a caminho de um sitiozinho nos arredores de João Pessoa, de propriedade da família, onde buscavam, uma vez por semana, frutas e hortaliças para abastecer a casa. - Você era pra morrer junto deles - soltou, sem perceber que já falava sozinho pela rua de barro úmido. J. Carlos parara de andar ao seu lado; e ficara, no meio da estrada, perplexo e confuso, fazendo-se ausente daquele diálogo macabro.

J. Carlos não compreende, mesmo depois de tantos anos, aquela atitude do jagunço Quinzinho. Certo o assassínio deste homem duas semanas após a incongruente declaração. Assassinato de emboscada, quatro punhaladas fatais em uma casa de moças desclassificadas de João Pessoa. J. Carlos somente lembrara do sujeito ainda mais sinistro por aqueles dias, ainda mais quieto, a olhá-lo de banda, querendo com ele alguma coisa, dizer algo. Não deu, por sua vez, a devida importância àquele jeito soturno, até porque essas coisas são meras especulações a posteriori... e a coisa maluca: a inocente caminhada a pegar frutinhas no pomar deu em quê. Os quês de vários porquês levaram J. Carlos à Marinha de Guerra do Brasil. Poderia ter escolhido a Legião Estrangeira como desterro, mas mesmo no deserto haveria de fincar raízes, o que seria contraproducente à sua história que, quando é teimosa, transforma-se em sina.

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