Foi a velha claudicante a vítima eventual de sua dor. Juliette respirou fundo, contou até dez, desejou mesmo flagelar-se; tudo! para não descontar em dona Mirandinha tantos impropérios. A velha, por sua vez, fazia bem não ser com ela. Os muitos anos vividos deram-na ouvidos pacientes e compreensivos para com a juventude - especialmente com Juliette, por ela muito querida. Devo explicar que tal afeição não era em si gratuita. A moça fora morar à Rua das Flores ainda recém-nascida, enrolada com a manta que seria do seu irmão, caso este não sucumbisse aos caprichos do destino. A mãe e o pai de Juliette - que serão apresentados em boa hora - decidiram mudar-se depois do inesperado; contudo, pregam-lhes outra peça o destino quando mal superaram o terrível infanticídio: souberam de outra gravidez, esta que traria ao mundo a sua única filha Juliette.
Darei ao leitor amigo os detalhes desta história, o que nos ajudará sobremaneira entender os descaminhos da pobre moça. Por hora, acompanhemos o interessante desdobramento do diálogo interrompido pelo parágrafo acima obscuro:
_ Ora! calce outro e vá - disse a velha, certa da solução.
_ Eu não os tenho.
_ Eu não os tenho o quê? - pergunta a velha incrédula.
_ O sapato, o sapato! Eu não tenho sapato; ouviu?!! - Juliette levanta-se de súbito a girar e girar - loucamente -, fora de si:
_ Eu não tenho sapato! Eu não tenho sapato! - Gargalha de bazófia acompanha o triste saldo patético da cena as cinco e pouquinho da manhã de sexta-feira.
Eu não tenho sapatos. Eis o embuste que confunde o leitor desatento.
(...)
Magnífico!!!
ResponderExcluirAgora quero ler mais... vou ser seguidora assídua do seu blog.
Parabéns, meu caro colega escritor!
Orgulho de São Gonçalo - município Mãe de muitos talentos!
Sucesso em seu caminho e muita luz,
abraços culturistas!